CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
Engatinhar? Esse mestre realmente sabe como atormentar sua pequena beleza. Zhuo Lun ficou diante da pequena beleza, observando seu mestre encará-lo com evidente interesse.
O que o mestre havia dito naquela manhã? Algo sobre que poderiam muito bem massacrar a capital outro dia, todos poderiam acompanhar a Consorte Viúva[1] na morte e haveria gente de sobra para acender incenso com ele no futuro. Suas palavras eram realmente assustadoras, mas como seu humor mudava rápido ao ver alguém bonito.
[1] Consorte Viúva: Uma concubina imperial de alto escalão, tipicamente mãe de príncipes. Seus aniversários de morte eram ocasiões importantes que exigiam homenagens formais.
Zhao Min pressionou os lábios, sentindo um gosto levemente doce e metálico na garganta, mas essa humilhação não era suficiente para fazê-lo recuar.
— Tsk, não quer engatinhar? — A paciência de Xiao Ji claramente havia se esgotado, e ele olhou para a pequena criatura ajoelhada diante dele com desdém. — Achei que a residência do Marquês de Haiping tivesse se esforçado tanto para buscar o favor deste rei.
Xiao Ji se virou, deixando o manto esvoaçar lentamente ao vento. Zhao Min aproveitou a oportunidade para segurar a ponta do manto de Xiao Ji, cerrando os dentes, mas mantendo a voz sem emoção, tão suave que parecia que poderia se dissolver a qualquer instante.
— Vossa Alteza, não vim hoje para entregar convite algum.
Naquele momento, o mordomo da residência real já havia levado dois cavalos castanhos. Vendo as pessoas ajoelhadas diante dos portões da residência, ele estalou a língua.
— Vossa Alteza, já está quase na hora. Se não partirmos logo, não chegaremos antes do horário de vocês[2].
[2] Na cronometragem tradicional chinesa, o dia era dividido em 12 períodos, com nomes de animais do zodíaco. O período mencionado correspondia aproximadamente às 17h às 19h.
Xiao Ji, que havia parado ao ouvir Zhao Min falar, ergueu o pé novamente. A ponta do manto deslizou lentamente das mãos de Zhao Min. Ele disse: — Vamos.
Percebendo que seu mestre havia realmente perdido a paciência, Zhuo Lun desembainhou a espada que acabara de guardar.
— Pare de arrumar desculpas! Sua Alteza está de bom humor hoje e não vai te esfolar vivo. Rápido, abram caminho!
Yunquan observava a aflição do Jovem Mestre, com o coração apertado. Ele já ouvira falar da temível reputação do Regente, implacável e cruel, imprevisível e com prazer em atormentar as pessoas. Seu nome era suficiente para fazer crianças de três anos na capital chorarem de medo. E agora estavam usando esses métodos para humilhar o Jovem Mestre! Um verdadeiro homem pode morrer, mas não ser humilhado!
— Jovem Mestre... vamos apenas voltar… — Yunquan sussurrou baixinho.
Os dedos pálidos de Zhao Min agarraram a neve no chão com força. Ele abaixou o olhar e disse, com a voz fraca.
— Vossa Alteza, não vim aqui para entregar convite algum. Eu… — Ele pronunciou cada palavra claramente. — Admiro Vossa Alteza há muito tempo e desejo... desejo visitá-lo.
A espada de Zhuo Lun, semi-desembainhada, congelou no ar. Ela não tinha ouvido errado, tinha? A pequena beleza disse que admirava... quem? Admirava seu mestre? Ha ha ha, essa era a piada mais ridícula que ela ouvira o ano inteiro!
Zhuo Lun avançou, ultrapassando Xiao Ji, apontando a espada para Zhao Min no chão.
— Ei! Não ouviu que meu mestre tem assuntos importantes a tratar? Se quiser entregar convites, pelo menos arrume uma desculpa decente. Cuidado, ou realmente vamos te esfolar e te jogar de volta! Levante-se!
— Meu coração está tão claro quanto a lua cheia, Vossa Alteza certamente pode ver isso. — Enquanto falava, Zhao Min ergueu-se e ordenou. — Yunquan, mova nossa carruagem para o lado e abra caminho para Sua Alteza.
— Sim, Jovem Mestre. — Yunquan respondeu e se levantou rapidamente deslocando a carruagem para um canto.
Nesse momento, o tempo piorou novamente e começou a nevar. Vendo que seu mestre ignorava a pequena beleza, Zhuo Lun guardou a espada e montou em seu cavalo.
— Mestre, não ligue para eles. Quando a neve ficar pesada, eles vão embora. — Xiao Ji chicoteou o cavalo, sem sequer olhar para Zhao Min no chão. — Hyah!
O cavalo relinchou alto, levantando rajadas de neve com os cascos dianteiros enquanto galopava velozmente pelo caminho oficial próximo, entre a neve imaculada.
Zhao Min observou as figuras desaparecerem na neve e voltou a se ajoelhar.
— Jovem Mestre, por que ainda estamos ajoelhados? Sua saúde não é boa, vamos voltar primeiro e pensar em outra forma. — Yunquan disse.
Zhao Min balançou a cabeça. Neste momento, quem mais poderia ajudá-lo? Como ele já havia encontrado Xiao Ji hoje, precisava absolutamente entrar na residência do Regente.
Só podia esperar que Xiao Ji realmente apreciasse seu tipo de aparência, como descrito em seu sonho.
Após a partida do Regente, o mordomo-chefe olhou para os dois da residência do Marquês de Haiping ainda ajoelhados e se aproximou para afastá-los.
— Vocês são mais comportados que o grupo de ontem, pelo menos não estão causando tumulto nos portões. Mas aconselho você, Jovem Mestre: Sua Alteza não quer nada com a residência do Marquês de Haiping. Mesmo que ajoelhem até morrer, não adiantará nada.
Zhao Min assentiu.
— Por favor, mordomo, mostre um pouco de clemência e me permita esperar aqui ajoelhado pelo retorno de Sua Alteza.
O mordomo-chefe suspirou.
— Tudo bem, tudo bem. Desde que não causem confusão, ajoelhem se quiserem.
. . . . . ◟੭
Zhuo Lun e Xiao Ji cavalgaram rapidamente da residência real até o Mausoléu Imperial de Pingqing, nas montanhas do sul, a viagem durou mais de uma hora. Após percorrerem os caminhos traiçoeiros da montanha e prestarem homenagens, retornaram para casa. Quando chegaram à cidade, o crepúsculo já caía.
Em um piscar de olhos, a Consorte Viúva já havia partido há mais de vinte anos. Excluindo os quatro anos desde que retornaram à capital, o regente não visitava o mausoléu imperial para queimar incenso há mais de uma década.
No entanto, este ano parecia diferente dos dois anteriores, o humor do Regente estava visivelmente mais leve. Seria por causa do encontro com aquela pequena beleza nos portões naquela manhã?
Zhuo Lun seguia atrás de Xiao Ji, observando seu mestre cavalgar à frente com tranquilidade. Incapaz de resistir, ela instigou seu cavalo para perguntar.
— Mestre, parece que está de bom humor hoje. Será que você realmente acreditou no que aquela pequena beleza disse sobre... admirar o senhor?
Que absurdo! Embora os costumes sociais do Grande Zong fossem relativamente liberais, eles até haviam desenvolvido remédios secretos que permitiam aos homens gerar filhos.
Mas que tipo de pessoa era seu mestre? Ele era o infame Deus da Morte do Noroeste, conhecido por manter centenas de concubinos masculinos! Embora essa reputação escandalosa tivesse sido espalhada por eles mesmos, a verdade ainda era duvidosa na capital. Mas que jovem respeitável, ao ouvir tais boatos, ousaria declarar admiração pelo seu mestre? Ele queria se casar com a residência real apenas para se tornar mais um entre centenas de concubinos?
— O quê? É impossível alguém gostar deste rei?— Xiao Ji brincava com o pingente de jade na mão, em tom calmo, quase carregando uma confiança rebelde, como se realmente houvesse alguém o perseguindo.
— Mestre, o senhor herdou a beleza da Consorte Viúva e possui aqueles raros olhos dourados, naturalmente, é elegante e impressionante. — Zhuo Lun começou com lisonjas antes de analisar a situação. — Mas ele é o herdeiro da residência do Marquês de Haiping. Ontem, eles enviaram pessoas para suborná-los. Você realmente acredita que ele te admira e quer conhecê-lo? Ou está apenas usando sedução como pretexto para convencê-lo a participar da tal cerimônia de reconhecimento do herdeiro e assim dar prestígio à sua família?
— Sedução? — Xiao Ji riu levemente, com uma expressão que revelava uma pontinha de expectativa. — Parece que teremos um entretenimento interessante para observar.
Zhuo Lun: Algo não está certo.
Depois de murmurar algumas palavras para si mesmo, Xiao Ji subitamente instigou o cavalo, que disparou como um raio em direção à residência real, deixando Zhuo Lun para trás. Ela apertou as rédeas: — Ei! Mestre, espere por mim!
. . . . . ◟੭
Enquanto isso, Zhao Min não sabia há quanto tempo permanecia ajoelhado. Uma quantidade considerável de neve já se acumulava sobre seu corpo, e seus joelhos haviam perdido toda a sensibilidade.
Doía terrivelmente; a dor era penetrante nos ossos.
O mordomo-chefe andava ansioso ao redor de Zhao Min.
— Jovem Mestre, por que insistir nisso? Você está destinado a se tornar um jovem marquês, que tipo de conduta é essa, ficar ajoelhado aqui?
Ele falara casualmente ao meio-dia, nunca imaginando que o herdeiro realmente ficaria ajoelhado, recusando-se a se levantar. Os visitantes de ontem eram apenas criados feridos, isso não tinha tanta importância. Mas quem estava ajoelhado agora era um verdadeiro jovem mestre. Se ele morresse ajoelhado ali, certamente causaria problemas para Sua Alteza.
Justamente quando ambos permaneciam em impasse, uma figura surgiu galopando ao entardecer.
Xiao Ji apareceu a cavalo diante dos portões da residência. Ao ouvir o alvoroço, Zhao Min sentiu uma onda de alívio. Excelente, ele havia esperado pelo retorno de Xiao Ji.
O Mordomo-chefe segurou o cavalo de Xiao Ji, falando com urgência: — Vossa Alteza, por favor, convença este jovem mestre! Ele... ele... ele ficou ajoelhado aqui o dia todo, insistindo em esperar pelo seu retorno!
Xiao Ji desmontou e olhou para o jovem, que quase se transformara em um pequeno boneco de neve. Suas vestes escuras e frias repousavam sobre o chão enquanto sua grande mão subitamente segurava o queixo de Zhao Min. Era o olhar de alguém avaliando uma mercadoria.
O rosto de Zhao Min corou. Ele levantou a cabeça involuntariamente, não tinha escolha a não ser encarar Xiao Ji à sua frente. Forçou um sorriso suave, que não soava totalmente desagradável.
— Vossa Alteza... já retornou.
Xiao Ji estreitou os olhos, exibindo um sorriso de significado ambíguo.
Ainda não havia desmaiado até a morte.
Bastante teimoso, de fato. Muito interessante.
Xiao Ji observou os longos cílios do jovem cobertos de gelo. Seus dedos pressionaram firmemente, virando o pequeno rosto para a esquerda e direita, perguntando: — Você admira este rei?
O tom de Xiao Ji carregava uma pitada de zombaria, e Zhao Min sabia que ele não acreditava em sua admiração declarada. Mas o que mais poderia dizer agora?
— Eu realmente gosto de Vossa Alteza. — O corpo de Zhao Min estava congelado. Cada palavra parecia uma pequena faca cortando sua garganta. O vapor de suas respirações flutuava entre eles, dificultando ver claramente as expressões através da névoa.
Zhao Min apostou quase toda a sua dignidade restante, implorando com voz baixa.
— Quero conhecê-lo, Vossa Alteza.
Zhao Min havia sonhado com esse homem, Xiao Ji.
O Deus da Guerra do Noroeste, o invencível Príncipe do Grande Zong, que lançaria uma rebelião no nono ano de Xuanlong e massacres na capital, o vilão da história. Embora os detalhes específicos sobre Xiao Ji no romance fossem um tanto vagos, Zhao Min sabia qual seria seu destino.
Zhao Min lembrava dos boatos circulando na capital de que Xiao Ji preferia homens com traços um pouco femininos e que a residência do Príncipe Noroeste supostamente abrigava centenas de concubinos masculinos. Entretanto, a história sonhada indicava que, embora Xiao Ji tivesse inclinações por homens, a ideia de manter concubinos masculinos só surgiu após sua rebelião e sua veracidade era questionável.
No momento, não havia ninguém ao lado de Xiao Ji. Um homem que permanecera celibatário por vinte e seis anos.
Talvez... talvez pudesse tentar descobrir se Xiao Ji se agradaria de sua aparência, contanto que ele conseguisse entrar na residência real e ter uma chance de falar com ele.
— Sabe que a antiga residência deste rei no Noroeste ainda guarda centenas de jovens? — disse Xiao Ji.
Zhao Min levantou a mão, segurando suavemente a ponta da túnica de Xiao Ji, puxando levemente de maneira sutil.
— Eu... não me importo com tais coisas.
Xiao Ji estreitou os olhos, estudando o belo rosto à sua frente. Soltou o queixo de Zhao Min, passando a ponta dos dedos pela bochecha ligeiramente fria.
— Quando você entrar nesta residência do Regente, não sairá sem perder alguns quilos de carne. — Ele bateu de leve na bochecha. — Acha que consegue suportar o tratamento deste rei?
Zhao Min mordeu os lábios, quase choramingando ao forçar as palavras.
— Por favor... que Vossa Alteza me valorize…
— Bom. — Xiao Ji sorriu levemente e entrou na residência. — Sigam-me.
Zhao Min fechou os olhos por um instante, observando a figura se afastar. Seus dedos finos pressionavam a neve no chão enquanto ele lentamente se erguia, com dificuldade.
Yunquan já havia chorado até se desfigurar. Ele não entendia por que o jovem tinha dito aquelas palavras ao regente e só podia assistir, impotente, enquanto o seu mestre era humilhado.
— Mestre, não seria melhor voltarmos? Por que se submeter a isso?
As pernas de Zhao Min quase não respondiam, e ele se movia como se carregasse um peso enorme. Ele balançou a cabeça, lembrando da visão em seu sonho de si mesmo com a barriga inchada como um tambor, sangrando sem controle. Recusar a morte daquele jeito era seu único consolo.
— Yunquan, me ajude... me ajude a entrar na residência.
Quando finalmente conseguiu atravessar o portão da residência, Xiao Ji já havia desaparecido. O mordomo-chefe, que testemunhara a chegada de Zhao Min, sentiu pena do jovem. Embora Sua Alteza houvesse instruído que ninguém ajudasse fora do portão, não dissera nada sobre dentro da residência. Assim, rapidamente chamou alguns criados.
— Rápido, ajudem o jovem a entrar! Devagar, com cuidado!
Os criados avançaram, afastando Yunquan e apoiando Zhao Min enquanto ele atravessava a entrada. O jovem se manteve firme e disse a Yunquan:
— Volte para casa. Diga ao pai que Sua Alteza me manterá aqui esta noite para conversar.
Yunquan enxugou as lágrimas.
— Mestre... entendi, wuu wuu wuu. — Ele observou o jovem sendo apoiado pelos criados, mordeu os lábios e se afastou. O mestre tinha seus motivos; ele não podia atrapalhar.
A força de Zhao Min só lhe permitiu atravessar o portão. Assim que relaxou a vigilância, sua visão escureceu e ele desmaiou. Quando acordou, estava com roupas limpas e algo quente havia sido aplicado em seus joelhos, uma pomada medicinal desconhecida.
Ele abriu os olhos lentamente e percebeu o ambiente pouco iluminado, com um leve aroma de ervas. Apoiado em uma pequena mesa, percebeu que estava em um chaise lounge[3]. Ao redor, detalhes em jade e laca mostravam luxo extremo. Aquela era provavelmente... a cama de Xiao Ji.
[3] Chaise lounge: Tipo de espreguiçadeira ou divã longo, estofado e elegante, utilizado para deitar ou apoiar parcialmente o corpo. Comum em quartos luxuosos ou residências de pessoas de alta posição.
Quando Zhao Min tentou se levantar, notou por entre as cortinas de pérolas uma escrivaninha onde Xiao Ji estava reclinado em roupas escuras, lendo um antigo manuscrito. Ao perceber o movimento de Zhao Min, levantou os olhos e perguntou, com voz profunda:
— Acordou?
FIM DO CAPÍTULO