CAPÍTULO 3
Esse não é o Faifah? Faifah é adorável, não é?
CAPÍTULO 3
Esse não é o Faifah? Faifah é adorável, não é?
Começo meu dia com uma manhã fresca. As atividades dos amigos nos fins de semana também são bem variadas. Alguns voltam para casa, outros vão às compras. Tem alguém aí! Dirigir até a praia para o aniversário dele. Quanto a Jay e eu, os outros caras de outras províncias estão com preguiça de ir para longe, então nós temos algo novo para aprender juntos. Isso é...
Limpeza.
A aula de tarefas domésticas da Sala 101 começou! Levem os estudos mais a sério.
Desde que meus pais não cuidam mais de mim, minha vida ficou muito mais difícil. Como lavar roupas, tem que fazer passo a passo, mas até coisas básicas, como separar as roupas antes de lavar, também são importantes. Outras pessoas podem achar simples, é só escolher pela cor, mas para alguém que precisa aprender tudo do início, isso é suado.
Enquanto escolhia as roupas, peguei uma camisa com as duas mãos. Naquele momento, muitas lembranças voltaram. Eu me perguntei por que nunca a usei, por que ela estava de repente no meio da pilha?
— O que será que Toey está fazendo agora? — murmurei para o meu colega de quarto.
Eu tinha comprado essa camisa com a Toey. Lembro que na época eu queria outro modelo listrado, mas a Toey reclamou dizendo que gostava mais desse tipo, então acabei comprando.
— Chega. Em vez de lembrar da Toey, vai separar logo as roupas.
Detesto quando Janjob nunca entra na brincadeira comigo. Desgraçado.
— Tô escolhendo, só lembrei de uma coisa antiga, foi um pouquinho de nostalgia.
— Você é doido.
— Me dá um tempo.
— Se você escrevesse todas essas bobagens diárias num livro de piadas, seria best-seller.
— Não me provoca. Escrever a verdade é pegar um resfriado.
— Ei!
— Jay, você ainda não excluiu a Toey do Facebook, né? Me conta, como ela tá hoje em dia?
Ouvindo isso, os olhos dele se arregalaram. Ficou em silêncio por um tempo, depois ele se virou e pegou o celular na mesa fazendo uma cara feia.
Nos dias de folga, Jay fica ainda mais preguiçoso. Deitado na cama, não importa se o sol já está alto, ele continua ali, mexendo no celular.
— A Toey atualiza a vida dela toda hora. Quer ver as fotos, senhor Wisawa? — disse ele, provocando. — Mas aviso logo, se seu coração não for forte, é melhor não olhar.
— É, meu coração não é tão forte assim. Só me diz se ela está feliz.
— Está retomando a vida.
Jay virou de lado, rolando o dedo na tela. Eu continuei separando as roupas para passar o tempo enquanto esperava a atualização do meu colega.
— Ela parece bem feliz, posta fotos com o namorado direto. “Enquanto eu tiver você, não preciso de mais nada”.
— Já basta contar, não precisa ler a legenda. — Mesmo tentando brincar, esse idiota me irrita.
— Então tudo bem, parece que a Toey tá ótima com o novo cara.
— Ela mencionou meu nome?
— Segue em frente, por que ela ainda falaria de você?
— Tem certeza? — Insisti e ouvi o barulho da língua estalando. Jay ainda olhava o celular atentamente, até que, depois de um tempo, disse:
— Dois ou três dias atrás, a Toey postou uma foto polaroid com a legenda: “Coisas do meu ex. Se quiser de volta, me avise”.
Ele rapidamente pulou da cama e veio até mim.
— Isso é seu?
Na tela aparecia a foto de um objeto e eu lembrei na hora que tinha comprado aquilo pra ela. Sempre achei que Toey tivesse jogado fora. Nunca pensei, nem sonhei, que um dia isso apareceria de novo na linha do tempo. E aquela câmera Fujifilm Instax[1] não é nada barata, seria uma pena deixar ir embora.
[1] Câmera instantânea tipo polaroid.
— É minha. — A voz quase sumiu na garganta. Jay levantou a mão e me deu um tapa na testa.
— Que drama. Quer que eu mande mensagem pra ela pra pegar de volta?
— Pode ser?
— Ela não quer mais, né? Pelo menos você recupera e vende.
— SIM.
— Então deixa comigo.
— Muito obrigado.
— Não pensa demais. Sabe o que é mais estressante do que tentar esquecer alguém que não te ama?
Balancei a cabeça em silêncio, olhando para o meu amigo alto.
— É não separar as roupas antes de lavar.
— Seu desgraçado, Jay!
彡
Os veteranos da Computação sempre dizem que o período em que melhor nos expressamos em linguagem humana e somos mais fáceis de entender é durante o primeiro ano. Isso porque, com o passar dos anos, vamos absorvendo cada vez mais a linguagem dos computadores até o ponto em que falamos e ninguém entende mais nada.
Acho que é verdade. Vejo muitos se afastando, indo pra um novo mundo. Logo vamos conversar mais com IA do que com colegas.
Então, antes de mergulharmos no estudo até o esgotamento, o primeiro ano é o tempo de viver e fazer tudo.
— Qual tênis de corrida eu uso hoje? — Ele perguntou.
Revirei os olhos. Ontem tínhamos limpado o quarto, hoje o plano era correr pra manter a saúde. Mas acho que o principal objetivo de Jay não é saúde, ele quer mostrar charme na pista.
Como eu também não estava ocupado, aceitei.
Mesmo quem adora ficar no quarto precisa sair às vezes. Só tem um problema: ele marcou pra correr às 16h30, e agora já são 17h e ele ainda está escolhendo roupa.
— Escolhe logo qualquer um.
— Preto ou branco?
— Preto.
— Nike ou Adidas?
— Nike.
— Ok... Será que troco a camisa?
— Tá bom assim.
— Levo jaqueta? Essa tá boa. — disse, experimentando uma. — O que acha?
— Feia.
— Mentira. — respondeu, se admirando no espelho. — Tô igual ao Robert Pattinson no filme do Nolan.
Nem respondi.
— Quando acabar, desce. Te espero na frente do dormitório.
Ben não foi correr, estava ocupado com tarefas domésticas. Jay e eu só alongamos no pátio. Mas antes de ele descer, uma moto parou bem na minha frente.
Quando o condutor tirou o capacete, meu coração quase caiu nos pés. Claramente, um carma de outra vida.
— Nonggg! — falou, tentando parecer mais velho.
— Olá, P’Faifah.
Normalmente eu só o via dirigindo carro, por que de moto hoje?
— Vai pra onde, N’Wine?
— O Jay me chamou pra correr.
— Coincidência, eu também vou. Quer vir junto?
Mesmo confuso, aceitei.
— Ok.
— Convidei um amigo também, tudo bem?
— Tudo bem, quanto mais gente melhor.
— Então vem aqui! — disse ele, batendo no banco de trás.
Mas eu avisei.
— Tenho que esperar meu amigo. Se não esperar, tô ferrado.
— Meu banco dá pra muita gente.
— Aham.
— Vai pegar mais alguém?
— Não, eles vão se encontrar lá.
Enquanto esperávamos, conversamos. Eu lembrei das coisas que os passageiros deixaram no carro dele.
— Já devolveu a carteira e o caderno de piadas?
— Assim que encontrar, devolvo. Parece que sou mensageiro.
Logo depois ele apontou.
— Olha, seu amigo chegou.
Era o Jay, todo arrumado, cabelo feito.
— Jay, né?
— Sim, senhor. Mas o que o senhor faz aqui?
— Vou dirigir e correr, queria te convidar.
— Que coincidência, bem na hora que Wine e eu também vamos correr.
— Então sobe, eu levo.
Espero que você não consiga virar a esquina e morra no meio da estrada primeiro.
Quando a confiança atinge esse nível, ainda existe rejeição? Subi rapidamente e me sentei no banco de trás. Meu melhor amigo, alto como sempre, nos seguiu e se sentou, apertando-nos, quase não havia mais espaço para a alma.
— Tá confortável?
— Sim. — Menti.
Absolutamente incrível.
Em menos de um instante, a moto começou a andar em uma velocidade de 40 km/h. Parece que P'Faifah está feliz com o vento e a paisagem. Às vezes, ele cumprimentava pessoas na rua e perguntava sobre a saúde delas. Quanto a mim, quase quis chutar o descanso da moto e espantá-lo para conversar com ele, para torná-lo mais acessível e fácil de entender.
De uma simples corrida, agora parece que se transformou em uma atividade de encontro público.
— Tio, as vendas estão boas hoje?
Pouco tempo depois de ter murmurado consigo mesmo, ele ocasionalmente tirou o pé do acelerador e reduziu a velocidade do veículo, antes de estacionar a moto na calçada para cumprimentar o dono de uma pequena loja de bebidas à base de ervas não muito longe dali.
— Não muito.
— Que pena. Então você fechou a loja tarde de novo hoje.
— Tudo bem, eu gosto.
Deixando os dois conversarem um pouco, nós três aproveitamos a oportunidade para continuar nosso caminho. Mas o lugar para onde voltamos não era a pista de corrida como pensávamos, mas sim no meio da estrada por onde tínhamos passado.
— Vocês deveriam estar um pouco animados.
— Por que vocês querem que eu fique animado? Por que me convidaram para correr juntos?
Voltando para a realidade.
A pessoa que estava sentada na motocicleta segurava uma garrafa de suco e um pacote de biscoitos caseiros com uma expressão de extremo tédio no rosto. Não fale de mim, parece que Jay está pronto para se despedir do mundo a qualquer momento.
O que precisamos não está aqui, irmão.
Desde o início, a história demonstrava que não terminaria apenas com um cumprimento ao dono da loja, a generosidade dele começou a surtir efeito, apoiando-o imediatamente. Finalmente, como visto, o motociclista saiu em patrulha e parou na estrada para distribuir bolos e bebidas. Ainda bem que não sobrou muita coisa depois de percorrer toda a universidade.
Mas isso não é muita coisa, droga... encheu a cesta inteira.
— É bom dar uma paradinha e trabalhar um pouco antes de correr. Seja um jovem temperamental. — Então observe o que ele diz.
— Se você for tão calmo quanto eu, provavelmente não vai conseguir lidar com isso.
— Ah. Vamos distribuir toda a água e os bolos antes de irmos embora rapidinho.
Como eu estava com medo de não conseguir correr e distribuir tudo, dei várias garrafas de suco para cada pessoa. E o Jay não ficou atrás, aproveitando a oportunidade para viralizar e postar fotos nas redes sociais imediatamente. Quando terminamos, já eram quase 18h.
E finalmente nos arrastamos até a pista de atletismo. Nossa universidade tem várias pistas para corrida e exercícios, além de diversos campos de futebol espalhados por todo o campus. Um dos lugares mais populares para correr é o campo central. O horário de pico é das 16h às 17h, mas como tínhamos acabado de chegar com um rapaz que gosta de relaxar, já eram quase 18h quando chegamos.
— Por favor, relaxe um pouco. — Sim, por favor.
— Onde estão seus amigos? — Começamos com um aquecimento simples ao lado do campo. Mas será que a gangue dele não está aqui?
— Ah, hein? Ouvi dizer que eles viriam, para onde foram? Aqui, eu ainda nem terminei minha frase, é difícil te ver. — O conhecido alto murmurou, fazendo beicinho para a pessoa que acabara de chegar.
Eu me preparei, provavelmente não havia apenas um amigo dele, no máximo três. E, como esperado, dois de seus amigos o seguiram. O primeiro não é um estranho, mas sim o lendário ship, P'Kongkiat. O outro é o amado do meu mentor do mesmo código.
— Por que vocês só estão aqui agora? — questionou P'Faifah.
— Como sabia que levaria muitas vidas até você terminar, diminui 50 minutos do horário marcado. — Ah, eu realmente gosto do jeito de pensar de P'Kong. Prevendo que é muito adequado sermos amigos por muito tempo. — Mas isso é...
O interlocutor desviou o olhar para mim e para Jay alternadamente. Assim que abriu a boca para se apresentar, a pessoa alta foi quem falou primeiro.
— Ele tem o mesmo código que Yotha, se chama Wine. E este é o amigo dele, se chama Jay.
— Olá, senhor.
— Olá. Meu nome é Gun, e o nome desse cara maldito é Kong.
— Você pode, por favor, tirar a palavra ‘maldito’ do meu nome? Odeio.
— Então, querido, essa pessoa é meu amigo... esse desgraçado do Kong.
— Estou farto dessa besteira. — O gêmeo fez uma cara entediada antes de interromper a conversa. — Ei, vamos correr primeiro.
Preparem-se para o aquecimento, seu encontro chegou, é hora de entrar em campo.
Jay é mais gato que qualquer outra pessoa. De uma corridinha leve no começo, ele começou a correr que nem um fantasma. Ele chutava as pernas sem parar, deixando uma distância enorme para trás. Eu não tenho pernas compridas como as dele, então deixei ele se exibir enquanto eu me misturava com o resto da multidão.
Durante todo esse tempo, a área ao redor não ficou silenciosa em momento nenhum. Normalmente, quando corro, sempre tiro meus AirPods para ouvir música. Mas hoje não tive chance de usá-los porque alguém já tinha criado uma cor para eles. Quem mais, senão a pessoa mais feliz do mundo?
— Você também vai correr hoje?
— Hum. Não pensei que nos veríamos, Fai.
No caminho, passamos por uma pessoa e, de repente, ouvimos um cumprimento alto de um conhecido.
— O tempo está bom, então quero correr. Quer correr comigo?
— Se quiser, venha.
A primeira pessoa passou correndo, e a segunda e a terceira a seguiram. Sabendo o que estava acontecendo, além de já ter vivenciado a situação, também observei as expressões de desdém de P’Kong e P’Gun.
— Bell Savitri, você corre há muito tempo? — Veja bem, não acho que haja nada de errado nisso.
— Já faz algum tempo.
— Dê o seu melhor.
— Faifah, dê o seu melhor também. — Bem, o que eu mais odeio é conseguir lembrar tanto do meu apelido quanto do meu nome verdadeiro. Extremamente irritante.
— Olá, bonitão.
Enquanto corriam juntos como um “grupo da faculdade”, o cavalheiro da alegria não parou por aí, ele também fez questão de cumprimentar todos que encontrava. Desta vez é uma criança, seu maluco! Pelo jeito, ele não tem mais de 10 anos.
— Oi, veterano.
Os dois trocaram um cumprimento amigável. A partir daí, meu nong também se juntou à fila.
— Quem é esse? — perguntei, com a dúvida me apertando o peito.
— O filho do gerente do Departamento de Humanidades. — Hã? Mesmo sendo o filho de um funcionário da universidade, não escapa. Como podem se conhecer? Estou me perguntando mesmo. — Conheci-o na locadora de quadrinhos.
Ainda não perguntei, é como se ele tivesse simplesmente me dito intuitivamente.
Ele sempre me surpreende. Começamos com apenas 5 pessoas, mas no caminho tivemos que manter o mesmo espírito de quem está protegendo os itens em um jogo online. Não sei quanto tempo se passou, mas o número de pessoas correndo juntas dobrou. É mais rápido que a rotação do ponteiro dos segundos.
Bem, nessa situação, estou pensando na cena da corrida no filme Forrest Gump.
E eu tenho a mesma responsabilidade que a equipe de notícias quando tenho que correr para torcer pelas pessoas ao meu lado. Muito bem, sejam bem-vindos, pessoal.
Pensar nisso me dá vontade de chorar, não sei se é suor ou lágrimas que estão escorrendo agora. Um ditado que me vem à mente rapidamente é o que eu queria dizer para P'Faifah: “correr com muita gente é divertido”.
Porque acho que certamente não foram muitos amigos que ele convidou, provavelmente é como ele disse no começo. Voltando para o presente... são 10! E talvez mais devagar ao longo da corrida.
Resumindo, todo o pátio é amigo dele.
Por mais que eu procurasse meu amado Jay, não consegui encontrar nem mesmo sua sombra. Só vi um estranho junto com outra pessoa sorrindo.
Eu realmente não deveria confiar em você, não deveria.
Eu acredito no que a professora disse na sala de entrevistas naquele dia.
“Se você estudar aqui, provavelmente encontrará algo novo que nunca imaginou que pudesse encontrar.”
Eu o conheci hoje. Mas, se eu tivesse que escolher, honestamente, provavelmente não gostaria de conhecer alguém assim.
Huuuuuuuuuu.
Esse não é o Faifah? Faifah é adorável, não é? — Parte 2
Sem saber em que estado eu estava quando voltei para o quarto ou como estava meu ânimo. Tudo parecia vago. É como sair para correr e depois jogar o cérebro na pista. Quanto ao corpo, alguém o traz de volta por responsabilidade.
Eram 20h, o relógio do celular já marcava esse horário. Antes disso, Jay tinha passado para comprar uma marmita para comer no quarto. Depois disso, ele pulou para jogar um jogo ao meu lado, me deixando sentado sozinho, relembrando as memórias daquela noite.
(Rrrr Rrrr)
Antes que eu pudesse pensar muito, o som de uma chamada de vídeo no celular trouxe de volta a alma que estava vagando por aí.
— Droga…
Quando vi o nome “Nasci para conhecer” aparecer na tela, respirei fundo, reunindo minha energia murcha, porque eu sabia que teria que usar muita força para conversar.
— O que foi?
— N’Wine, você esqueceu algo na frente da minha moto. — Além do rosto fofo que me faz odiar provocá-lo, havia também uma carteira preta mostrada na tela. O problema é que não era minha de novo. Da próxima vez que alguém for com ele, por favor coloquem o nome no objeto, para que possa ser devolvido para a pessoa certa.
— Isso não é meu.
— Ah?! Ou é do Jay?
— Eu lembro das coisas do Jay. Isso não é dele. Acho que deve ser do P’Kong, se não for do P’Gun.
— Não é deles. — O falante fez uma cara entediada. — N’Nguong, você está livre amanhã à noite? Eu planejo te convidar para comer em um restaurante delicioso.
O que há de errado com ele? Estamos falando de uma carteira, como assim já está querendo saber se estou livre ou não? Não consigo acompanhar.
— Amanhã não posso, tenho um compromisso com o P’Yotha.
— Tudo bem, fica para outra vez então. — A voz no final da frase começou a desaparecer, e o rosto dele pareceu visivelmente triste. Cara, nem precisa estudar engenharia, parece que seria melhor virar ator de novela.
— Desculpa.
— Por que tem que ser com o Yotha? Então eu não sou importante? — Por que dizer que está tudo bem então?
— Você também é importante, mas ele é meu mentor.
— Meu coração dói.
— Drama. — Tem que fazer birra comigo e ainda ser chutado. Não sei nem mais quem é você agora.
— Daqui a quantas horas?
— Dois dias.
— Ah, estou dois dias atrasado. Então, da próxima vez, vou marcar um horário com você primeiro, assim bloqueio minha agenda.
— Que dia?
— A partir de depois de amanhã até a próxima vida. — Misericórdia. Nunca vai conhecer ninguém nessa vida? — Você já comeu?
— Eu já comi. E você?
— Ainda não, não consigo comer. Estou preocupado com você.
— E você?
— Desculpa, chamei amigos demais quando fui correr. — Haha. Não é muita coisa, provavelmente o tamanho de uma mini maratona.
— Tô de boa, hoje foi divertido.
— Sério? Então você virá de novo da próxima vez? — Por que esse rosto tão ansioso?
— Er… deixa eu pensar. — Se eu tiver energia sobrando como hoje, eu diria que sim. Mas se estiver mais cansado, talvez eu nem consiga me arrastar para lugar nenhum. A sensação é que não é a corrida que consome energia, mas sim ter que lidar com o fluxo interminável de pessoas.
— Você não quer ir comigo? — Drama de novo! Como eu respondo isso?!
— Quem disse que eu não quero? Se eu estiver livre, eu vou sim.
— A coisa mais incrível de todas. Isso está confirmado.
— Confirmado o quê?
— Confirmando tudo, eu estou sempre livre aaaaaaa.
Fiquei sem palavras. Queria perguntar se ele não vai a faculdade todo dia, não encontra professor, não faz relatórios e trabalhos? Mas fiquei com medo de a pergunta ficar grande demais, então só sorri de canto, me questionando em silêncio.
Por que a vida universitária de alguém parece tão triste?!
彡
Conferi minha aparência no espelho depois de tirar várias camisas do armário. No final, fiquei com minha camiseta de banda favorita, que eu tinha usado tanto que estava quase se desfazendo. Quando percebi que não havia mais erros, peguei uma bolsa com o mesmo padrão, me preparando para encarar o mundo. O destino não estava longe: o restaurante onde eu tinha marcado de me encontrar com o meu mentor.
Assim que cheguei, vi que ele já esperava lá dentro. Fiquei envergonhado porque, além de fazê-lo pagar a conta, ainda o fiz esperar. Então me apressei em encontrar meu sênior alto e o cumprimentei com um sorriso brilhante.
— Oi, P’Yotha.
— Oi.
— Esperou muito?
— Acabei de chegar. Peça a comida primeiro. — Ele entregou o cardápio. Para não perder mais tempo, meu estômago começou a dar sinais de que eu estava com fome, então decidi me sentar rapidamente. Abri o cardápio pensando em escolher o prato mais barato, porque não queria incomodar muito a outra pessoa.
— Não seja tímido, peça o que quiser comer. — Era como se ele soubesse o que eu estava pensando e disse isso antes mesmo de eu pedir.
— Eu escolhi… arroz frito com ovo.
— Não tem arroz frito com ovo no dormitório? — Viu? Tá me zoando.
— Tem, mas quero experimentar daqui.
— Ok. — Ele não insistiu mais e aceitou tudo. Pedimos também as bebidas antes de fechar o menu. Enquanto esperávamos, P’Yotha fez uma grande surpresa ao tirar uma sacola de papel simples.
— Pra mim?
— Sim, é um presente pro Wine.
— Que vergonha, mas pra não desapontar sua gentileza, muito obrigado. — Recebi e tentei abrir. Carambaaa!!! O que é isso?!
Parece um pijama colorido. Mas o que mais me fez chorar ao ver foi o padrão da roupa. Tem de tudo, patinhos, golfinhos, coelhos, vários animais para escolher.
— Vai usar.
— Prometo dormir com isso toda noite. — Tenho certeza que o Jay vai me zoar por muito tempo por causa disso.
— Olha só, que coincidência.
Enquanto eu elogiava o pijama fofo com o meu mentor, meus ouvidos inquietos ouviram um som familiar. E quando virei para olhar na direção, meu coração parou. Não por uma sensação boa, mas por medo profundo de que o desastre estava se aproximando, pouco a pouco.
— Fai. — P’Yotha suspirou antes de chamar seu irmão mais novo com um olhar deprimido, encarando o recém-chegado que parecia querer chutá-lo de tão feliz.
— Não pensei que nos encontraríamos aqui.
— Na verdade, dá pra fingir que não nos viu.
— As pessoas veem, mas elas não conseguem fingir. — Os dois irmãos conversavam naturalmente, antes do mais novo se sentar na cadeira ao meu lado sem esperar ser convidado.
— Tira o pé daí.
— Tô com fome. Já pediram?
— Se você chegar atrasado, senta na sua própria mesa. Hoje eu não estou aqui para pagar pra você, só pro meu júnior.
— Como assim? — Tô morrendo de inveja. Tudo que o P’Yotha dizia, o P’Faifah fingia não ouvir. Rapidamente mudou de assunto para sorrir para mim, perguntando com uma voz incomparavelmente astuta.
— N’Wine, o que você pediu?
— Arroz frito com ovo.
— Olha só que menu criativo. Então vou pedir o mesmo. — Tá me zoando? Nem sei como reagir, além de sorrir de volta.
Não sei como ele veio parar aqui, ou se foi coincidência que nos fez nos encontrar. Mas seja lá o motivo, agora eu e o P’Yotha temos que juntar energia para conversar com ele por muito tempo. A minha vida é como carma. Quanto mais tento me esconder dele, mais o destino nos junta.
Só rezei no meu coração para que o P’Fai não inventasse alguma coisa estranha ou contasse uma história dolorosa na mesa. Parecia estar funcionando: todos comiam em silêncio. Mas não durou muito. Dessa vez, quem quebrou o silêncio foi o P’Yotha.
— Fai, tira uma foto nossa. — Ele tirou o celular do bolso e ia entregar ao outro, mas o irmão respondeu rápido demais num tom alto.
— Posso usar a câmera do meu celular, acabei de comprar. A sua parece boa, posso mudar.
— Você sempre troca para o modelo mais novo.
— Ah, é tecnologia. — P'Faifah ergueu as sobrancelhas antes de retirar a importante ferramenta da adorável bolsa em forma de mangostão. Meu Deus... isso é a tela de um celular ou de um iPad? Enorme. — Vai querer modo beleza?
— Seja legal comigo! A câmera normal está boa.
— Retrato?
— Você entende o que significa ‘normal’?
Ouvir os irmãos discutindo foi divertido por um tempo. Fiquei ali no meio, só podendo revirar os olhos e sorrir. No fundo, torcendo para que eles brigassem ali mesmo, só para ter uma história boa para contar aos meus amigos.
P’Faifah se posicionou na ponta da mesa, afastou um pouco as pernas e levantou o celular enorme.
— Sorriam.
Obedeci com um sorrisinho. Do lado oposto, o P’Yotha parecia estar prestes a lutar, de tão tenso.
— Cliiic!
— Fai, você não precisa fazer efeitos sonoros.
— Eu gosto. Clic, clic, clic. — Situação infernal. Só de tirar foto já dá vontade de enfiar a cabeça na mesa. Parece que ele vai tirar um monte só para acabar com o efeito sonoro.
E o dono da foto nem pensou em sentar de volta. Ficou mexendo no celular, com uma expressão diferente a cada segundo.
— Fofo demais. — Ele murmurou. Mas o irmão respondeu na hora.
— O que é fofo?
— Você e o mano.
— Me envia as fotos também.
— Vou marcar vocês.
Esperei. Em cinco minutos, lá estava o post do código familiar divino nas redes sociais, graças ao fotógrafo permanente que sempre posta tudo.
A câmera do P’Faifah é tão boa quanto o esperado. A ponto de até a árvore atrás de mim estar mais nítida do que eu e o P’Yotha. Como agradecimento, mandei emojis de coração. Na verdade, tudo isso é só fachada, porque o que eu queria dizer mesmo era…
Você focou no lugar errado! Irmão maldito!
Escolher entre mostrar a árvore ou o rosto das pessoas não faz sentido.
彡
Sabe o que é mais triste do que ser largado por um namorado? Tirar uma foto mais borrada do que uma árvore? Ou conhecer o ser humano mais feliz da história como o P’Faifah? A resposta é... ter que sentar e tomar café com ele, mesmo quando você não quer.
Haha, o que aconteceu depois que estávamos prestes a nos despedir? O cavalheiro alegre do departamento me chamou para tomar algo mais uma vez. Acho que o P’Yotha não queria que eu ficasse com o irmão mais novo, mas eu realmente queria ver o nível de loucura dele, então aceitei.
E o Sweet Song Café foi uma péssima escolha.
— Mocha com chocolate gelado chegou.
Novo pedido, e o atendente serviu rápido. Olhando ao redor, o ambiente era acolhedor. Pequeno, em estilo japonês moderno, mas com uma mistura estranha de decorações. Talvez por isso o lugar tivesse tão poucos clientes em comparação com os outros ao redor.
Quanto à música, digo logo, não combina em nada com o nome “Sweet Song - Canção Doce”. Assim que ouvi, só quis me esconder no banheiro para não ouvir mais.
— Nem sabia que existia um lugar assim.
— Meu amigo, aquele tal de Phuri, trabalha aqui como garçom. Às vezes passo pra ajudar.
— Ajudar ou atrapalhar?
— Hã! — O cara alto ergueu o punho. Uau... só isso já dá medo.
— Então o P’Phuri não veio trabalhar hoje?
— Não. Ele vem só à noite nos dias de semana. — Assenti e bebi meu chocolate. — Na verdade, muitos amigos trabalham meio período. O namorado do Yotha, o Gun, também trabalha à noite em um café. Mas quis trazer você nesse aqui, porque sinto que aqui é familiar.
— Familiar mesmo. — O sofá parece que foi carregado de casa.
Então de onde surgiu essa almofada em forma de tomate fedido sobre ele?
Ah! Parece que o Sweet Song se diz um café de gatos.
— Ué, cadê os gatinhos?
— Ah, estão ali dormindo pelados.
Oiii? Tem três ou quatro procurando um canto pra dormir ali? Não chamam isso de café de gatos, só de criação normal de gatos mesmo. Eles só ficam parados, sem querer interagir com ninguém, a não ser dormir.
— Bom, a família do P’Mihun trabalha mais com dedetização de cupins. O dinheiro que sobrou foi usado para abrir um café onde as crianças podem sentar e brincar, vendendo sem fins lucrativos. — P’Faifah explicou com muito orgulho, apesar da realidade ser outra.
— Mas um café custa 170 baht[2]. — Eu não queria falar, mas é realmente confuso.
— Isso é café de alta classe.
— O chocolate é 120 baht[2].
[2] Data da cotação: 14/11/2025. ฿1 = R$ 0,16 / ฿170 = R$ 27,71 / ฿120 = R$ 19,56.
— O cacau é cultivado em Marte, o frete é caro.
— Não tem graça. — Fiz cara séria, mas a pessoa à minha frente, aquela pessoa extremamente astuta, transformou tudo sem piedade.
— Você ouve gente chorando? — Esse sou eu, chorando pela incapacidade do seu humor.
— Ah, Fai.
— Pega-pega, surpresa! — Eu e o dono do nome nos viramos para ver a fonte do som. Um garoto desconhecido estava à porta, com uma garota.
De uma felicidade que já existia, agora a felicidade dele se multiplicou por dez. Eu sei... sem nem precisar perguntar, já sei que provavelmente é um amigo dele que costuma aparecer sempre. Não sei como vou me apresentar, mas preciso me preparar primeiro, não é?
— Trouxe ela pra comer?
— Sim, e você veio com a namorada?
— Claro. Apaixonado, entendeu?
— E quanto a mim, Nong? O que eu sou? Não posso ser mais do que um amigo?
— Isso é meu pai, idiota?
Uma das vantagens de conhecer P'Faifah é que posso expandir meus horizontes e conhecer muitas pessoas com personalidades diferentes, cada uma com a sua própria. Se eu ainda fosse a mesma pessoa de antes, provavelmente não teria visto nada parecido, mesmo que tivesse que usar meu cérebro para lembrar os nomes e rostos de inúmeras pessoas..
— N’Fai, veio pra loja hoje.
E a história se repete como antes, pessoal. As saudações e os ditados se repetiam sem parar, como se estivessem programados. Desde o primeiro momento em que se sentou à mesa, depois de um tempo começou a se levantar e ir até aquela mesa, aquela outra, e às vezes até pegava o celular para tirar fotos como lembrança. Que saco! Então eu só fiquei sentado, tomando meu chocolate e assistindo ao espetáculo à minha frente para espantar o tédio.
É verdade que o restaurante tem poucas pessoas, mas o ponto positivo é que o fluxo é constante, sempre há pessoas entrando e saindo. Como os principais clientes costumam ser universitários, o estereótipo simplesmente se confirma.
Abrem a porta e entram. Surpreendem-se. “Olá, P'Faifah”. Pedem uma bebida. Conversam alegremente. Tiram uma foto. E saem da loja.
Não há nada de errado com isso!
Mas o que provavelmente não está igual é o mocha que ele pediu. O gelo começou a derreter. Eu estava prestes a chamar o dono de volta para tomar a bebida, mas fiquei com medo de que ele se comportasse mal, então tudo o que pude fazer foi observar a situação.
Quando ele terminou de cumprimentar as pessoas e perguntar sobre elas, eu quase estava me deitando no sofá para esperar até tarde. Inesperadamente, quando o homem aflito retornou à mesa, meus ouvidos ouviram uma frase extremamente compreensiva.
— Uou, o gelo derreteu.
— E agora?
— N’Wine, não se preocupe. — Ele disse isso de muito bom humor, antes de se virar para conversar com o atendente.
— …
— Querido, traz outro mocha!
Hum…
Cara, ele ainda não teve tempo de beber o primeiro café, e já pediu um novo. Aí, se alguém entrar na loja de novo, tem chances de que o segundo copo de mocha desapareça, igual o primeiro. O que eu faço com esse cara?
— Quando for falar com seus amigos, leva o café com você. Pelo amor.
— Não vou mais, vou ficar com você. — Devo me emocionar? Me deixou sozinho por horas, mal via minha própria sombra. — O chocolate tá gostoso?
— Está.
— Quer comer alguma coisa? — perguntou como se quisesse agradar.
— Não quero, estou satisfeito.
— Você não quer nem um bolo?
— Não.
— Para onde quer ir agora?
— Voltar para o meu dormitório. E você?
— Um amigo me chamou para ir para um pub mais tarde, mas eu recusei. — Nem acredito que ouvi isso da boca dele. Normalmente o P’Faifah recusa alguém? Ele vive saindo!
— Por que não foi? Vai fingir que é exemplo pra mim?
— Não é isso. Se eu bebo muito, fico fazendo xixi toda hora. Preguiça de ir ao banheiro.
A vida…
Quantas vezes eu já fiz isso? Toda vez que tento elogiá-lo, ele estraga tudo. Um ser diabólico.
— Ei, você joga algum jogo? — perguntei só para saber, mas quando vi o olhar sério dele respondendo…
— Sério mesmo?
— Heh, heh.
— N’Wine, vamos combinar que não nos conhecemos tão bem, né?
— Desse jeito tá bom, não precisa mais que isso. Qualquer coisa vira constrangedora. — Só de pensar, meus olhos enchem de lágrimas. Só conhecendo isso quase acabou a vida, o que mais ele quer me mostrar? Não…
— Por que tanta dificuldade? — Ah, tá, você não se conhece ainda? — Quando o Yotha quer conhecer alguém, ele faz um questionário para a pessoa responder. Mas eu não sou assim. Se quero conhecer alguém, eu pergunto.
— Mas eu não tenho nada que valha a pena conhecer.
— Tem sim. — Quase morri de medo. — Vamos nos conhecer melhor.
— Eu não consigo pensar em como falar de mim. Posso só ouvir sua história?
Ele balançou a cabeça antes de desviar o olhar para pensar. Um instante depois, olhou para mim com uma expressão mais séria do que o habitual.
— Pronto. Vamos falar cinco coisas.
— Cinco coisas?
— Sim. Eu começo. Primeiro, me chamam de ‘a diversão do departamento’. — Uh. Mas acho que ele tá falando errado. A verdade é que é mais tipo ‘a alegria da humanidade’. — Vai N’Wine.
Seu semblante era estranhamente alegre. Quero nem imaginar o que vai acontecer.
— Posso dizer… sonolento? Minha cara parece meio sonolenta.
— Ok. Próximo, número dois. Tenho tantos amigos quanto os cachorros.
— Verdade. — Totalmente de acordo.
— Ei, você nem argumenta?
— Por que argumentar com algo tão verdadeiro? Meu número dois é: sou alguém que fica no quarto.
— Mas isso vai mudar. Vou te levar pra tudo quanto é lugar.
— Não quero ir pro inferno com você.
— Já tá contrariando tudo. — Ele piscou. Sorri só pra fugir e voltar ao problema antigo.
— Nada disso. Qual seu número três?
— Minhas bochechas são macias.
— Isso aí você mesmo deduz. — Poucos segundos depois de dizer isso, o ser à minha frente fez algo bizarro: aproximou o rosto demais, sem tempo para eu reagir. Só consegui prender a respiração e encarar a cena.
Pi, não sei o que você está fazendo.
— Tenta beliscar minha bochecha pra ver se é macia?
— N… Não.
— Tenta.
— Você tá bem?
Ele riu bem alto antes de se afastar, então eu pude reunir minha alma de volta ao corpo. Um cara maluco, que sempre faz coisas inesperadas.
— E você, qual seu número três, N’Wine?
— Eu sou muito ruim em inglês.
— Eu ensino. — A voz baixa e gentil apagou o incômodo anterior.
— Número quatro.
— Você primeiro.
— Quero ouvir o seu antes.
— Eu gosto de guardar coisas como lembrança. Sinto que… se eu me importo muito com alguém e essa pessoa me dá algo, eu guardo tudo.
— N’Wine é romântico.
Não chame isso de romance, chame de paixão. Então eu não consegui me conter. Um belo dia, quando me dei conta e vi a caixa contendo aquelas coisas novamente, comecei a não conseguir fechá-la porque estava toda lotada de coisas guardadas dentro.
Mas eu não queria ser questionado demais, então rapidamente voltei o assunto para meu veterano novamente.
— Agora é sua vez.
— Minha quarta coisa… sou muito claro. Se eu acho que alguém é amigo, vai ser só amigo. Se é irmão, vai ser só irmão. Não existe isso de virar namorado depois.
— Então como você sabe quem é amigo ou namorado?
— Pela primeira impressão. — Como se eu fosse entender, enruguei a testa. — É difícil de explicar. Mas dá pra responder quem é certo e quem não é. Tipo o Savitri, com quem fui correr: esse eu vejo como amigo.
— E o P’Kong?
— Esse também. Vive flertando com meninas o ano todo, como eu vou gostar dele? Tem que ser alguém como você.
— Eu sou seu nong.
— Eu te coloquei na Karma Zone[3].
[3] Karma Zone = quem tem dívida de vidas passadas.
— Ah, até esqueci.
Mas é muito pior que ser só irmão. Eu quase chorei, mas o P’Faifah nem me deixou tempo, porque ainda continuou:
— Pra mim, você não pode ser considerado amigo, mas também não pode ser considerado irmão.
— …?
— Aí vira alguém que eu posso amar pra valer.
Todos ficaram em silêncio, como se o tempo neste mundo tivesse parado temporariamente. Suas palavras, sua voz, sua expressão e seus olhos não pareciam tão brincalhões como de costume.
E por causa dessa declaração, nos esquecemos de contar nossa quinta coisa.
彡
O que aconteceu hoje não é diferente de se deixar levar por uma montanha-russa em trilhos sinuosos. Mesmo ao abrir a porta do quarto, compreendi cada vez mais a atmosfera sombria que parecia pronta para levar as pessoas do trem para o abismo a qualquer momento.
— Por que você disse que ia sair para jogar com o Ben? Voltou tão rápido? — Coloquei a sacola de pano na cama, sem esquecer de cumprimentar meu colega de quarto, Jay, que estava sentado de frente para o laptop na mesa.
Normalmente, sempre que eu abria a porta, ouvia primeiro a voz provocativa dele me cumprimentando. Ao contrário de hoje. Não sei o que aconteceu, não sei o que sonhei, mas a reação dele parece estranha.
— Wine, ontem eu mandei mensagem para Toey, para pegar a caixa de volta na casa dela. A Toey respondeu hoje.
— É mesmo? O que a Toey disse?
Meu coração bateu descontroladamente, meus braços e pernas começaram a tremer, até o ponto de eu tentar controlar para não demonstrar demais.
— Ela vai mandar a câmera de volta, então eu passei o endereço do nosso quarto.
— A Toey disse mais alguma coisa? — Engoli a saliva na garganta, com medo do que estava prestes a ouvir.
— Você sempre se perguntou o porquê da Toey ter terminado com você, né?
— É... sim.
— A Toey me contou que acabou descobrindo algo sobre você, algo que você não teve coragem de contar para ela. — Jay continuou falando sem nem virar o rosto para me olhar, apenas focando na tela do laptop como antes.
O silêncio tornou a atmosfera ao redor bastante opressiva. A ponto de me forçar a ter coragem de perguntar novamente.
— Jay, o que você sabe? O que a Toey te disse?
Eu sempre tive medo, medo de que a razão pela qual fui largado, que eu uma vez desconfiei, fosse verdade.
— Ela não disse nada, eu só fiquei pensando na verdade... Sempre me perguntei, mas nunca tive coragem de perguntar diretamente.
— …
— Você lembra das coisas da Toey que eu te falei pra jogar?
— Eu joguei tudo fora. — respondi rapidamente, confuso.
— É, você jogou fora. Porque não significa nada pra você. Então o que é aquela mala de calças debaixo da sua cama? — Senti como se meu coração tivesse caído direto até os tornozelos. Meu corpo ficou rígido dos pés à cabeça, sem ousar me mexer.
Nessa situação, até os pelos do meu corpo se arrepiaram quando vi meu melhor amigo virar-se para mim com um olhar indecifrável.
— Eu nunca abri, nunca me meti nos seus assuntos pessoais, mas pude deduzir o suficiente depois de conversar com a Toey hoje. Wine…
— …
— Você gosta secretamente do irmão da Toey, né?
Toey é a terceira filha, ela tem um irmão mais velho e uma irmã do meio. Mas Jay não deixou que eu lembrasse disso enquanto abria a boca pra continuar, com uma voz firme que fez o arrepio percorrer meu corpo.
— O irmão da Toey, você gosta dele, não é? — Eu soube naquele momento.
O segredo chocante que tentei esconder por tanto tempo desmoronou completamente. E isso também é uma das razões pelas quais eu não contei a verdade sobre o quinto ponto diretamente para o P'Faifah, que é:
Eu… gosto de garotos.
FIM DO CAPÍTULO