CAPÍTULO 2
Pior que o Faifah de hoje é o Faifah de amanhã
CAPÍTULO 2
Pior que o Faifah de hoje é o Faifah de amanhã
Inspire, expire…
Inspire… inspire… mas não consigo mais expirar.
Neste momento, ninguém pode me ajudar, o que me resta é culpar e xingar alguém internamente do fundo do meu coração. Se eu tivesse escolhido voltar para casa com o meu mentor, eu já estaria cuidando da minha pele no meu quarto há muito tempo. Mas a verdade é que fiz a escolha errada, então agora estou sentado feito peixe enlatado neste carro que Faifah disse ser muito espaçoso.
Meu coração, meus sentimentos, alguém vai se responsabilizar?
Aquele motorista não tem sensibilidade alguma, sentado no banco macio, ouvindo música descontraída. Do lado esquerdo, a outra pessoa é um amigo que foi forçado a agachar, porque o namorado o abandonou em frente ao restaurante. Talvez por ser o mais velho, foi razoável ele se sentar no banco de passageiro ao lado.
O cenário muda na parte de trás…
No canto mais à esquerda do banco está uma garota bonita ocupando um lugar remendado. Em seguida vêm duas moças do clube com suas tralhas. Sorte que o tambor estava guardado no porta-malas, mas o banner não cabia, então teve que ser enfiado na frente. Se você perguntar ao Sr. Wisawa qual é a condição atual dele, nem precisa adivinhar para saber que ele está prestes a morrer!
Eu nem consigo ficar sentado direito. Tenho que me virar e me encostar no vidro para liberar espaço suficiente para quatro pessoas no banco de trás.
— Você está confortável, Yi?
— Relaxa.
— E você, Wine? Tudo bem?
— Tudo… bem… — Já viu um peixe fora d'água? Quando os olhos saltam das órbitas e a boca fica boquiaberta como se estivesse morrendo, era assim que eu estava prestes a morrer.
— Por que sua voz está fraca e sumindo?
Você por acaso consegue ver pelo espelho retrovisor como estou aqui? Se ele não ligar o carro logo, em poucos segundos provavelmente me despedirei deste mundo de verdade.
— Va… vamos, dirija o carro… — Internamente, eu apenas rezei silenciosamente para que a primeira pessoa a ser deixada fosse eu, tá? Mas antes que eu terminasse de pensar, a voz do dono do carro soou imediatamente.
— Vamos deixar o Kim em casa primeiro, porque o dormitório dele é o mais perto. Depois levamos a Miew e os amigos ao Departamento de Assuntos Estudantis. E qual é o nome do amigo da Miew?
— Meu nome é Som, prazer em conhecê-lo, Faifah. — A pessoa que tinha ficado calada por muito tempo falou com uma voz clara.
— Legal. Falando em Som, eu também conheço muitas pessoas com esse nome: gerente Som, o bancário Som, mais o Som da educação, são quatro ou cinco Som no total. Também tem muitos Som que são técnicos.
— Que bom. O Faifah conhece tanta gente.
— Você pode me perguntar, eu conheço a universidade inteira.
— Hã?! — No começo, eu estava apenas sentado quieto e escutando. Mas assim que ouvi essa frase, um grito saiu automaticamente da minha boca. Ele conhece a universidade inteira!!! Pergunta séria: há quantos anos você trabalha no cartório do distrito?
— O que houve, N'Nguong[1]? — Confuso com meu grito que tinha saído, a pessoa de quem eu falava virou-se de imediato olhando em confusão.
[1] Nguong significa sonolento.
— Meu nome é Wine.
— Ok, N’Wine, eu te deixo por último, porque o dormitório em Dun é mais longe que o dos outros.
Eu queria dizer que era brincadeira, mas tinha medo de difamar a pessoa, então aceitei meu destino, abaixei a cabeça e sentei em silêncio observando o motorista entrar em ruas e vielas para deixar os passageiros em suas casas. Ainda bem que ele não parou para pegar ninguém na beira da estrada. Se tivesse parado, eu provavelmente teria voltado pro meu quarto às 2 da manhã.
E assim que a última garota saiu do carro, rapidamente fui empurrado para sentar ao lado do motorista. A atmosfera dentro do carro também estava começando a ficar confortável. O corpo também não precisava mais ser forçado a sentar com a boca quase colada no vidro ao ponto de se cansar. Admiro mesmo a minha habilidade de aguentar por tanto tempo.
— Ei, por que você estacionou o carro? — Depois de dirigir um pouco mais, os gêmeos continuam me arrumando mais encrenca.
O caminho do restaurante até o dormitório é tão longo quanto ir de Bangkok a Nakhon Sri Thammarat[2], seu idiota.
[2] Nakhon Sri Thammarat é uma província no sul da Tailândia, 783 km de Bangkok.
— Vou comprar umas coisas.
— Tá bom.
Não é certo andar no carro dele e implicar com o dono; o Wine provavelmente só pode fazer isso e aceitar tudo que acontece.
P’Faifah entrou numa loja de conveniência grande e saiu com uma sacola inteira cheia de compras. Até que a confusão na meus pensamentos foi interrompida quando uma mão grossa estendeu uma garrafa d’água.
— Isso é…
— Pra você. Tá tão calor que você tá suando todo, coitado.
— Obrigado. Na verdade, você não precisava se incomodar, eu tenho água na minha mochila.
— Não tá gelada, pega essa. — Então ele trouxe as coisas de novo. — Água mineral, vi que as meninas gostam de borrifar no rosto, dizem que refresca.
O quê, posso tirar a maldição que fiz antes? Além de generoso, você ainda presta atenção aos detalhes, né?
— Quanto foi, P’Faifah?
— Tá tudo bem. Leve de graça, não quero meu dinheiro de volta. O ar-condicionado tá frio? Ajusta aí você mesmo.
— Tá frio.
— Que bom. — O veículo foi ligado e seguimos em frente. Com a melodia da música um pouco lenta e baixa, parecia haver um clima meio morto entre nós. Então tentei achar algo pra conversar. Mas por mais que eu pensasse, no fim, foi aquela pessoa animada que quebrou o silêncio.
— Posso ter o seu número de telefone para que possamos nos falar? Ligarei para saber se aconteceu algo.
— E se eu não te der?
— Você foi criado pelo meu irmão? Que arrogância. — Assim como ele, eu chamo isso de algo normal, mas você tem uma atitude muito mais amigável do que pessoas normais.
Depois de dar meu número, talvez a vida vá me mandar algum carma inesperado? Mas se eu não desse, provavelmente iríamos nos magoar demais. Briguei com meus pensamentos por sabe-se lá quanto tempo até o celular da pessoa ao meu lado ser colocado na minha frente. Eu não tinha escolha.
— Salva meu número aí.
— Certo.
— Como foi a primeira semana de aula?
— Não teve nada de especial porque o professor ainda não começou a ensinar, só entregou o livro.
— E os amigos?
— As amizades são legais também, todo mundo é simpático comigo.
— A comida é boa?
— Ainda não comi o suficiente no refeitório do dormitório. Alguns restaurantes são bons, outros têm filas gigantes, mas eu gosto de comer com meus amigos.
— Tá tudo bem, por que essa cara tão entediada? — Não sei se meu rosto sempre foi assim, ou se nasceu de um humor triste e um coração partido por Toey.
Será que eu deveria contar isso para a pessoa ao meu lado? E aqui está... a viagem daqui até o dormitório vai demorar um pouco, então desabafar tristemente pra quebrar o silêncio não custaria nada.
— A verdade é que eu acabei de ser abandonado pela minha namorada faz pouco tempo.
O dono do rosto bonito virou-se de imediato. Não sei o que aquele olhar significava, mas como ele ficou em silêncio, eu decidi continuar falando. Essa situação, meu amigo, é a melhor citação sobre a vida.
— Nesta longa vida, eu nunca amei e nunca fui amado.
— Que triste. — Uma voz calorosa soou suavemente.
— …
— Quero dizer, é tão triste ver isso. Qual é o drama?
— Ah, achei que você estivesse no clima.
— Se apaixonar e terminar é normal, não é?
— Mas nem todo mundo acha normal. Quanto mais rápido quem termina arruma alguém novo, mais dói.
— Então acabou. — Puta merda. É realmente errado pensar nisso quando você fala com um louco.
Talvez por ter visto meu rosto encolher até ficar do tamanho de dois dedos, ele estendeu a mão e deu um tapinha no meu ombro e no meu rosto com seriedade.
— Wine, olha pra mim. Eu já passei por mais coisas que você e me feri mais que você.
— Como? Você já foi abandonado? Eu não consigo acreditar.
— Já. — O clima estava começando a ficar sério. P’Faifah dirigia com uma expressão de dó, deprimida. Nossas vidas não eram diferentes do programa Sad People’s Zone.
— E como você superou?
— Eu vou te contar. — Ele vai falar só isso? — Espera, quando foi esse amor?
— No segundo ano.
— Eu… Hum…
— O que houve?
— Urgh.
— Por que você tá bravo?
— Urgh.
— Uou!
Fechem a cena do Sad People’s Zone, porque não é realmente tristeza, é só miserável…
彡
— O que houve? Tá com a testa franzida. Achei que você ficaria feliz por estar no código de mentoria divino.
A saudação do meu colega de quarto, Jay, me fez soltar um longo suspiro. Com P’Yotha é tudo muito fácil. Em contraste com seu amigável irmão mais novo chamado Faifah, aquele que nem sequer consigo encontrar palavras para descrever.
— Estaria tudo bem, se eu não tivesse tido a má sorte de encontrar o irmão gêmeo do meu mentor antes.
— Ah, o P’Faifah?
— Como você conhece ele?
— Ele conhece a universidade toda, seu idiota. Em que mundo você vive?
— Oh?!
— Ele é o Príncipe do Campus.
— Quem escolheu isso? É um pecado para nossa universidade.
— Quem quer que seja esse rosto bonito, eu desisto. Se você não acredita em mim, olha.
Meu colega pegou o telefone e deslizou a tela, então um momento depois pulou da cama e mostrou o telefone com a imagem de alguém na tela. É uma foto dele secando o cabelo molhado com um sorriso e comentários.
— Essa foto estava na página Cute Boy dois dias atrás. O que acha? O mais quente desta área.
— Nossa, ele é tão bonito. Deixa eu te perguntar algo.
— Pergunta.
— Ele é normal?
—Não sei. A qualquer momento ele tem uma personalidade diferente, algo entre feliz e louco.
— Acho que a última parte é certa.
— O que ele fez com você? — Meu amigo inclinou a cabeça. Eu queria que ele encontrasse a pessoa de verdade pra ter uma resposta mais clara, mas é melhor não deixar ninguém passar por isso.
— Ele é bom demais. — Tendo terminado de falar, concluí a conversa me deitando na cama e pegando meu celular pra fuçar nas redes sociais.
Outros amigos tiravam fotos e postavam por toda parte, todo mundo com seus mentores sorriam radiante. Então olhei o código de mentoria divino, não havia um único post, só do irmão do meu mentor sombrio. Além disso, P’Yotha é alguém que não gosta de tirar fotos, então não temos fotos para postar pra todo mundo ver.
É doloroso pensar. Depois de rolar o feed por um tempo, o jackpot chegou.
De repente, colegas do departamento inteiro convidaram uns aos outros a postar fotos com alguém. Certamente eu os conhecia, porque a gente conversou menos de dez minutos atrás. Por mais que o corpo e o rosto da pessoa se parecessem com os do irmão gêmeo, a expressão e a postura vistas na foto mostravam que definitivamente é uma pessoa cativante, então é Faifah.
A pergunta é: logo depois que nos separamos, você vai limpar tudo de novo?
Não bastou. Achei que tivesse conhecido só duas pessoas, mas por que o feed todo só tem foto dele? Além das meninas, tem um grupo de meninos também. Eles escrevem as legendas mais quentes do mundo.
— Jay, você conhece o P’Faifah, né?
— Ah, sim. — Meu amigo alto virou as costas, enquanto os olhos ficavam fixos na tela do computador abrindo um game lendário.
— Que tipo de pessoa ele é?
— Será que devo ir tão longe assim? Vai investigar você mesmo.
— Ele me ajudou muito.
Pensando por um tempo, decidi ir ao Instagram dele por conta própria. Como ele é famoso na universidade toda, a conta é pública, então é fácil espiar. Mesmo não postando muitas fotos, só duzentas ou trezentas fotos, mas quando cliquei nas marcações, só pude dizer uma palavra — incontáveis!
Fotos sozinho, fotos de casal, fotos em grupo, muitos formatos e lugares, fui em todos os cafés. No pub também há fotos brindando com esta pessoa e aquela, não duplicadas. Começo a ficar inseguro: você veio para estudar ou para desfilar e encontrar pessoas?
— Parece que tirou toda a energia do P’Yotha. — Observei e resmunguei para que o cara bonito ao lado ouvisse.
— Oh, não diga só P’Yotha, acho que esse cara suga a energia do mundo todo.
— Isso mesmo.
De vez em quando Jay e eu temos a mesma opinião, já que brigamos há muitos anos.
Fiquei olhando as fotos no celular até cansar. Dez minutos depois, a notificação de uma chamada de vídeo tocou. A chamada vinha de um número que eu não tinha salvo, mas por curiosidade atendi.
— Quem é? — A imagem na tela tremia até ficar borrada, antes de a pessoa virar o celular para a câmera frontal sem aviso.
Maldito!!! Fiquei tão chocado que meu rosto tremeu ao ver que a pessoa que fazia a chamada de vídeo era P’Faifah.
Eu não sabia como me comportar porque não estava preparado psicologicamente para ver a cara arrogante dele de imediato. Não sabia nem por onde começar, então revirei os olhos por um tempo até encontrar palavras para falar.
— Aconteceu algo de errado para me ligar?
— Você esqueceu algo no meu carro. — Depois de dizer isso, ele se abaixou, procurou e puxou algo. Era uma carteira preta que não me era familiar.
— Isso não é meu. Provavelmente pertence a alguém que veio com a gente ou algo assim.
— Sério? Então tá.
— Sim.
Ele foi rápido e sumiu mais rápido que o Flash. Assim que desliguei a chamada, sentei sozinho e comecei a processar a situação que acabara de ocorrer. Não achei que o dono do número desconhecido ligaria novamente para mim em outra chamada de vídeo.
— O que houve, P’Faifah?
— Achei este livro no banco de trás, é seu? — Primeiro foi a carteira, agora era o livro ‘Love Quotes’ com uma capa adorável que eu nunca tinha visto na vida. Mas suponho que deva pertencer a alguém que ele sempre oferece carona no caminho.
— Isso também não é meu. Tenta ligar pra quem você já deu carona antes e tenta descobrir.
— Quem eu dei carona? Semana passada não teve muita gente.
Não teve muita gente é o caramba. Antes disso, teve centenas de pessoas.
— Seja honesto.
— Não consigo lembrar.
— E seu namorado?
— Que namorado? São todos amigos.
— A friendzone é enorme.
— Claro. Quanto mais bonito você for, você terá todas as zonas. Zona é só um grupo de amigos.
Ugh…
— Também classifiquei a sua, é a karma[3] zone.
[3] Neste contexto, “karma zone” significa que eles são pessoas que têm dívidas de vidas passadas.
— O quê? Tenho certeza que você não me deve nenhum karma. — A pessoa do outro lado da chamada riu antes de ficar sério.
— Ok, ok. Vou tentar ligar e perguntar pra mais alguém. Desculpa o incômodo. — Então minha chamada foi encerrada. Menos de cinco minutos depois, a videochamada voltou mais uma vez. Eu realmente não aguento mais.
Nem consigo atender o telefone. Tenho medo que a Faifah entre no modo “maluco”, então provavelmente estou com ainda mais azar.
— Alguém esqueceu algo no seu carro dessa vez?
— Ninguém esqueceu nada, mas eu esqueci de te falar uma coisa. — Minhas sobrancelhas começaram a franzir, encarando o rosto bonito através da tela do celular.
— Me falar algo?
— Não esquece de salvar meu número.
— Só isso?
— E eu pensei nos nomes mais especiais, algo como ‘nasci pra encontrar alguém tão bonito’. — Merda. Isso é o nome do dono do número ou a tese que vai enviar pro professor? É grande, mas não me envergonho da memória do meu celular.
— Posso diminuir um pouco? Só a frase ‘nasci pra encontrar’ já basta.
— Boa brincadeira, boa provocação. Ah, tem uma coisa que ainda não perguntei.
— Por que você sempre diz que só tem uma coisa a dizer? Meu tempo é dinheiro. — Falei um pouco demais, preciso encontrar uma história para não perder minha imagem. Então continuei falando, sem dúvida esperando que eu enlouqueça primeiro…
— Então não é pra perguntar mais? Vou desligar.
— Nã... espera, por que você tá emburrado? — Jogar o jogo e fazer a jogada errada é triste, acho que conversar com pessoas incomuns seja provavelmente a mesma coisa. — E o que mais você queria dizer?
— O Yotha me pediu pra pedir seu número, mas eu ainda não dei pra ele, então liguei pra pedir permissão primeiro.
— O veterano tem o mesmo código que eu, no fim das contas, eu teria que dar meu número mesmo. — O irmão com o meu código, o dono do apelido ‘escuridão’, até esqueceu o número de calouros como eu.
— Se outra pessoa pedir, você dará?
— Sim.
— Simples.
— Não como você, distribuindo seu número por aí.
— Como você sabe?
— Imaginei. Então é isso mesmo?
— É, tipo isso. Pergunta pra todo mundo na universidade, eles todos têm meu número.
— Você realmente é assim.
— E como você é?
— Como você vê.
A definição dele pra mim é provavelmente só uma frase: ‘Nasci pra encontrar’, segundo o nome que deveria ser salvo no meu telefone.
Pior que o Faifah de hoje é o Faifah de amanhã - Parte 2
P’Yotha, representando o código divino inteiro, entrou em contato comigo ontem à noite para marcar de me entregar as anotações das aulas do ano passado. Jay, Ben e eu aproveitamos a oportunidade para acordar cedo e tomar café na cafeteria da Faculdade de Engenharia.
No meio da refeição, enquanto eu tentava adivinhar quais seriam as atividades do departamento naquele dia, o belo cavalheiro moreno entrou com a expressão mais entediante de sua vida. Será que ele sorri alguma vez ou muda de humor? Parece ter um ótimo autocontrole.
— Olá, P’Yotha. — Meus amigos cumprimentaram e fizeram o wai[4] com rostos radiantes. Ele também acenou em resposta antes de me entregar a sacola branca contendo tudo.
[3] “Wai” é o cumprimento tailandês. Ele é feito colocando as palmas das mãos juntas, como em uma posição de oração, e inclinando a cabeça em seguida.
— Já separei os materiais e livros.
— Muito obrigado. Não pensei que eu teria tanta sorte. — Depois de muito tempo tendo azar, finalmente algo assim.
— Não tem de quê. Se precisar de ajuda ou tiver alguma dúvida, é só falar. — Ele falou com uma voz suave, mas havia gentileza nela. Quem o amar é realmente sortudo.
— Está tudo bem.
Conversamos mais um pouco antes do veterano alto se despedir e ir embora. Vendo que alguém o esperava, não o convidei para comer junto. Enquanto esperava a aula, tirei o livro velho que tinha acabado de receber para folhear. Não sei se meu veterano gosta tanto assim de mim para me dar toda a matéria, ou se talvez ele só seja preguiçoso pra vender livros usados. Independente do que for, isso ajuda bastante.
— Ei. — Depois de um longo silêncio, finalmente me virei para perguntar à pessoa ao meu lado, e Jay respondeu rapidamente.
— O quê?
— Será que alguém como P'Yotha alguma vez tem momentos em que corteja seu amado de uma forma carinhosa?
— Quando amamos, fazemos qualquer coisa. O que você tá imaginando?
— Nada, eu só acho essa mensagem adorável.
Janjob se inclinou para ler a mensagem no livro de física. Mesmo com a página cheia de palavras escritas em tinta azul, havia um cantinho vazio com tinta laranja aparecendo. Pelo jeito da caligrafia, dava pra notar que o autor não era P’Yotha, mas acho que essa pessoa devia ser bem especial.
“Se tirarmos A nesta matéria, vamos mudar de quarto juntos.”
Então havia uma mensagem em verde ao lado daquela frase, escrita pelo dono do livro:
“Vamos arrumar nossas coisas e esperar você se mudar.”
Vendo tanta doçura e açúcar, a imagem de Arunothai apareceu de repente na memória. Ai! Minha vida não acabou tão miseravelmente. Depois de me consolar, tirei o livro da mochila e continuei lendo.
Estudar no curso também passou num piscar de olhos. À tarde, tínhamos que estudar com o prédio inteiro do departamento de Ciências com alunos do primeiro ano de outros departamentos, então nos convencemos a mover nossos corpos e estômagos para comer no prédio do Departamento de Computação.
As mochilas foram colocadas no chão para segurar a mesa, antes que meus amigos se separassem e formassem fila para comprar a comida que queriam.
Sou do tipo que prefere arroz a fibra. Além disso, a barraca de curry é extremamente rápida, então escolhi uma entre as muitas lojas por ali. Mas eu não sabia qual era realmente boa, então decidi ficar na fila mais longa porque garantia ser a melhor.
Avancei com os dois pés até parar e ficar atrás do veterano no fim da fila. Um deles era muito alto, com ótima postura, tanto que mesmo visto de costas dava pra ver que era bonito.
— Aw, hey!
Gritei sem querer bem quando o dono das costas largas e firmes se virou, no momento exato. Porque percebi que quem elogiei agora não era estranho.
Era o P’Faifah. Mas hoje havia algo estranho que eu não lembrava estar ali antes: a cor do cabelo dele. Normalmente ele tem cabelo preto bem escuro, igual ao do irmão gêmeo. Hoje estava diferente, o cabelo estava tingido num tom esfumaçado.
Pra ser sincero, gosto de todas as versões dele. E fico até com um pouco de inveja de ele ter nascido tão estiloso!
— Aw, hey! — A aura mortal durou vários segundos. Finalmente, o veterano neurótico falou de novo a mesma frase que eu.
— Olá. Você veio comer?
— Se você fica na fila de uma barraquinha, tem que comer, né? — Ahah.
Por que você é tão idiota? Cavalooo.
— Você está me xingando por dentro de novo?
— Não é isso. Tô elogiando você por dentro. Além disso, você tá estranho hoje, não tô acostumado. — Ao ouvir isso, P’Faifah imediatamente passou a mão no cabelo duas ou três vezes. Ai, meu Deus, que estiloso. Quem passar por aqui morre na hora.
— Eu fiquei entediado de as pessoas me cumprimentarem errado o tempo todo, então comecei a brincar. — Sério, se não fosse a primeira vez que os vissem, ainda confundiriam mesmo você com o Sr. Escuridão? — Mas infelizmente essa cor não dura muito. Quando desbotar, vou pintar de preto de novo.
— Fica careca.
— Você tá preocupado com a saúde do meu cabelo?
— Ainda não falei nada.
— Então fala, fala agora. — Completamente arruinado.
— Você vive provocando as pessoas, ele é o seu mentorando afinal? — Antes que eu pudesse argumentar, a voz de um garoto parado à minha frente me interrompeu de repente. Era um rapaz de pele clara, um pouco mais alto que eu, deve ter uns 1,80 m de altura. Ele me causava uma sensação de familiaridade, parecia um veterano do departamento.
— Não, não. — O dono da voz grave lhe respondeu.
— Se não, vamos nos apresentar então.
— Esse é N’Nguong[4]. — Fala sério, sou sonolento em casa!
[4] “Nguong” significa sonolento.
— Olá, meu nome é Wine.
— Seu rosto parece bêbado o tempo todo. — Eles eram bons amigos: um diz que eu tô sonolento, o outro que eu tô bêbado e irritado. — E meu nome é Phuri.
— Prazer, P’Phuri. — Ele sorriu amigável antes de mudar a expressão e rapidamente voltar a conversar com o melhor amigo.
— É, Kong e Gun mandaram mensagem, eles vêm comer com a gente depois.
— Ok, ok.
A fila longa, parecida com cauda de cobra, começou a diminuir. Enquanto isso, P’Phuri voltou ao celular para mandar mensagens, deixando eu e Faifah rindo ali.
— Não é hoje a primeira noite de atividades? — Assenti quando o mais alto perguntou.
— Recepcionar os calouros na base da violência, né?
— Ah, isso já largaram há muito tempo. Sobrou só as atividades sociais.
— E o que normalmente fazem nessas atividades?
— Não é muito, tipo dar comida pra quem tem boa personalidade, e tem que ser alguém chamado Faifah.
— Hum… — Melhor eu não dizer nada.
— Sou uma raridade.
— Eu consigo suportar, eu consigo suportar tudo.
Se você não o tivesse conhecido pessoalmente ou visto com seus próprios olhos, poderia pensar que ele era o cara mais gato da região. Mas voltando à realidade, só de ouvir a frase “entre no carro”, a imagem que me vem em mente é a de alguém virando o volante para pegar mais passageiros na rua.
— O que você vai pedir? — A voz do dono da barraca foi como uma campainha salvadora, não deixando a gente perder tempo conversando besteira, era hora de pedir. O rosto bonito virou-se pra mim com uma voz macia e aveludada.
— O que você quer comer?
— Eu?
— Hum.
— Quero arroz frito com manjericão.
— Mais ovo frito?
— Sim.
— De novo a mesma escolha. — Ele murmurou, depois se virou e falou com o dono da barraca: — Ainda tem arroz com manjericão pra dois pratos?
— Sobrou só um prato.
— Então me dá um prato de arroz com manjericão. — O indicador esguio apontou para mim, que estava confuso.
— E você?
— Eu posso comer outra coisa.
Pessoas ilustres e de bom caráter da universidade. Mesmo tendo o xingado muito em meu íntimo por bastante tempo, Faifah continua assim, frequentemente revertendo a situação de forma que eu não consiga mais encontrar motivos para amaldiçoar.
O prato que eu pedi foi colocado ao lado do balcão. Tirei o dinheiro da carteira pra pagar e me virei pra agradecer ao veterano alto com gratidão, quase chorei.
— Obrigado. Por que você é tão gentil comigo?
— Eu já disse, eu faço de boa vontade.
— Estou emocionado.
— Então, o que o rapaz bonito vai querer? Agora só sobrou dinheiro para um prato de phanaeng[5]. — O tio perguntou novamente, mas em vez de Faifah responder imediatamente, ele virou-se para procurar a garota que estava atrás dele. Pelo jeito como ela se veste da cabeça aos pés, dá para perceber que dificilmente iria sair da zona de calouros.
[5] “Phanaeng” é arroz com curry vermelho.
— Aw, N’Jaynin.
— P’Faifah.
— Desde quando você tava aí atrás?
— Já faz um tempo.
— Que bom, já que a gente se conhece, vou deixar a Jaynin pedir primeiro.
— Sim? — A pessoa em questão parecia confusa até entender. — Ah, obrigada.
— Quer pedir algo em especial?
— Queria pedir phanaeng de porco.
— Hey, estamos em sintonia de novo!
— …
— Então, tio, é melhor deixar essa menina pedir primeiro.
— Muito obrigada, P’Faifah.
— Tudo bem, é de boa vontade.
Ah, desculpa por pensar demais. Desculpa por achar que eu era importante. Hum!
Peço um pouquinho, do fundo do meu coração.
Pi!!!!!! Você vai conseguir comer nessa vida? Esse cara é maluco.
Meu amigo voltou e sentou na mesa da frente. Ben comeu arroz com frango ao curry e ainda comprou uma tigela de noodles e água. Jay também mais ou menos o mesmo, deve ter um cardápio inteiro de pratos de fibra como macarrão crocante. Se eu tivesse pedido com eles desde o início, meu espírito não teria sido tão esmagado.
Porque toda vez que eu olho para o arroz com ovo e manjericão, quase me dá vontade de chorar.
— Wine, por que tá com a boca aberta?
— Tô emotivo.
— Que revigorante. — Realmente irritante, meu amigo. Ainda bem que o Jay não respondeu com um palavrão e mudou de assunto rapidamente. — É, eu vi você ali conversando com o P'Faifah agora há pouco, ele está com um cabelo novo, está muito bonito.
— Você precisa se acalmar, às vezes a vibe dele não tem nada a ver com o rosto.
— Tô te dizendo que você tá com inveja porque ele é bonito.
— Nasci pra ter mais inveja da sua pele. Tô cansado, Jay, de quem mais eu teria ciúme? — Os dois meninos riram e continuaram a entupir a barriga. Mas toda atenção foi para as duas pessoas que chegaram colocando um prato e sentaram na mesma mesa que P’Faifah e o grupo.
Um era alto, corpo bonito, e se sorrisse, alguém com certeza morreria. O outro era meio rato de biblioteca, óculos, cabelo ondulado e bagunçado, mas agradável de ver, meio esquisito.
— Quem é aquele? Por que nunca vi antes? — Ben estava sentado de costas para a mesa com os alvos e virou-se rapidamente para olhar. Já faz uma semana que estudo e entro no prédio do curso quase todo dia, mas nunca tinha visto essa pessoa.
— Você não os conhece? — perguntou meu amigo.
— O quê? Preciso conhecer todo mundo ou algo do tipo?
— Não precisa conhecer todo mundo, mas devia conhecer a pessoa que ama seu mentor, né?
— Hã? Quem ama meu mentor? — Isso é ruim. Sei que o Sr. Dark tem uma pessoa amada, e já vi a doçura dele no livro, mas nunca pensei que seria um rapaz.
— Alguém tão adorável quanto um filhote de beagle.
— Entendi. — Se a pessoa tem cara de cachorrinho, é fácil de reconhecer.
— E o outro é o ship lendário com P’Faifah. Vi a galera do departamento gritando bastante.
— Ah.
Dessa vez, Jay, que havia permanecido em silêncio até então, teve a oportunidade de gritar. Eles estavam muito animados. Enquanto isso, eu ainda estava me afogando na expressão ‘casal shippado’.
— Você conhece a palavra ship?
— Ship? Bao Thanh Thien?[6]
[6] ‘Shippar’ significa torcer pela formação de um casal. ‘Ship’ é o casal shippado. / Bao Thanh Thien = Pao Bun Jin.
— Aí, seu idiota. Como você sobrevive nessa era próspera? — Ben mandou um link com o significado de “ship” no Google com uma cara deprimida. Depois de ler, entendi bem o significado.
— No mundo real podem ser apenas amigos, mas quando a gente shippa, eles podem se amar mesmo assim, né?
— Mais ou menos. Se shipparmos você com o Jay, vamos criar a hashtag JayWine para competir.
— Horrível. — Tipo, eu e Janjob? Nem em sonhos. — Mas por que esse casal? Faifah conhece o mundo inteiro, por que não shippar com outra pessoa?
— Os outros também têm ships, mas esse é um amigo do mesmo grupo dele.
— Tem muita gente no mesmo grupo.
— Você faz muita pergunta, seu idiota. Bora comer.
No fim, não houve resposta, então ele mudou de assunto. Eu era o único ainda prestando atenção no veterano do segundo ano sentado algumas filas à frente. Quando olhei melhor...
P’Faifah e a pessoa shippada com ele combinavam.
A imagem imaginada da Faculdade de Engenharia.
Vestindo uma camisa de oficina, usando a engrenagem, com cara de durão, onde quer que ele vá, as garotas gritam, porque ele é muito descolado. A mudança repentina para a realidade destrói tudo.
Não tenho camisa de oficina, nem a engrenagem. As únicas imagens que podem ser vistas são alguns garotos ontem com camiseta, calça de ginástica e chinelos, cada um agachado segurando uma escova para esfregar o corredor com uma cara extremamente entediada. Mesmo se eu quisesse postar uma foto legal, não dava mais.
— Galera, susu[7]. — Com o quê eu deveria lutar? Com as manchas do chão do departamento?
[7] สู้ๆ = susu, significa se esforçar. สู้ = su, significa lutar.
As vidas do Sr. Wisawa e seus amigos ainda não superaram a semana em que o inferno aconteceu.
Por que disseram que não teria trote pesado para os calouros, que seria leve? Que é isso? Fizemos de tudo, menos empunhar espada no campo de batalha. Os primeiros dias foram mais tranquilos com atividades em salas com ar-condicionado, quebra-gelo e jogos. Antes disso, os veteranos nos enganaram totalmente com o esquema de buddy[8], fazendo nós confiarmos neles para formar duplas. Todo mundo ia se divertir, porque ia conhecer gente nova.
[8] Buddy = companheiro/parceiro.
Buddy, eu sou um garoto que estuda Engenharia Mecânica. Como ninguém ali sabia se comunicar, eles simplesmente trocaram presentes e se separaram. No dia seguinte foi um inferno real com… serviço comunitário para todo o departamento.
Fazer de tudo: esfregar engrenagens, limpar aquários, podar arbustos, consertar equipamentos quebrados. Duvido que o orçamento para contratar alguém para limpar exista, então os calouros têm que se curvar e fazer tudo pra eles.
— Gente, não fiquem tão bravos. Para terminar esse lugar, terão veteranos do mesmo código no corredor esperando para entregar marmita, com certeza vai ser agradável.
— Amor, não queria aceitar marmita.
— E o que você quer então?
— Quero voltar a dormir.
— Ok. Dorme um pouco, não precisa ir pro alojamento até o dia que receber sua engrenagem.
— Oh, o quê?
Eu… sabia que muitos calouros queriam ter engrenagens e usar como colares para exibir pras meninas. Além disso, este ano não vendem mais na sala do clube, então como conseguir, a não ser participando das atividades? Vendo de forma otimista, estou fazendo serviço comunitário para o departamento, mas tem desvantagens. A gente chama isso de preguiça.
Hoje, o Departamento de Computação foi designado para limpar a pequena área de atividade ao lado da sala do clube, incluindo a área do ventilador enferrujado que precisava ser raspada, escovada e pintada.
— O que fazemos com isso?
— Vamos levar pro depósito de cima. — Explorando mesmo o pessoal de Computação. Porque nosso amigo se voluntariou para ajudar os veteranos a subir uma montanha de coisas da sala do clube pro novo quartinho. Em vez de descansar, os caras que tinham acabado de limpar o ginásio tiveram que se dividir para esse dever.
Um monte de caixas de papelão contendo itens multiuso foram carregadas para cima, ambos os pés subiram lentamente cada degrau da escada. No começo não era tão lento, mas quando a energia começou a se esgotar, era como uma preguiça se esforçando para chegar à linha de chegada.
Aí o cara do vestiário disse que era no 4º andar. Por que não escolheram uma sala no andar de baixo?
— Pobrezinho, tô morrendo, tem alguém morrendo na minha frente. — Esse tipo de voz... devia ir limpar.
Ao me virar pra ver quem fazia a provocação, vi o veterano de cabelos grisalhos à minha frente, sorrindo, bloqueando o caminho, a ponto da caixa na minha mão tremer.
— Se não quer que eu morra, sai da frente. — Pessoas já altas, ainda têm que levantar a cabeça pra discutir, é cansativo.
— Ok.
Ao dizer isso, a outra pessoa imediatamente moveu o pé para o lado, dando espaço para que eu passasse. Mas, em vez de seguirmos caminhos separados, ele se virou e caminhou comigo. Parecia até que ele estava estendendo a mão para comer batatas fritas, de tão deliciosas que estavam.
Está provocando de propósito? Devo parecer cansado e com fome agora.
Durante as atividades, P’Faifah aparecia frequentemente para participar. Além de ser um dos que cuidavam da palhaçada, também animava os calouros. Então não é estranho que muita gente do departamento ficasse empolgada a ponto de se gabarem abertamente.
Se você tiver algum problema, farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar. Mas ele não veio se intrometer em nada comigo. E esta é provavelmente a primeira vez em muitos dias que conversamos.
— O que você está fazendo aqui? — Não tenho certeza das intenções da pessoa ao meu lado, então preciso perguntar para diminuir as suspeitas.
— Vim animar você.
— A verdade é que você não deveria me ajudar a carregar as coisas?
— Por que eu faria isso?
— Aw?! Você sempre foi legal com todo mundo.
— De quem é a responsabilidade? Quer comer batata? — Dizendo isso, a mão grossa estendeu as fritas para mim.
— Não como.
— Abre a boca logo.
— Não!
— Haaaa. — Eu disse que não ia comer, mas ele não parava de provocar. Quando olham com esperança por muito tempo, será que alguém como Wine aguenta? Acabei aceitando comer da mão dele até terminar.
A primeira mordida nem tinha engolido e P’Faifah já me ofereceu a segunda e a terceira consecutivamente, a ponto de eu não conseguir mais me concentrar em subir a escada, carregar caixa ou comer batata.
— Pode parar de me alimentar? A batata tá quase entalando na minha garganta.
— Vi que tinha muita comida, então pensei que você gostava.
— Hoi.
— Wine, ainda tem mais coisa pra descer lá embaixo? — Nós paramos na escada entre o 3º e 4º andares, viramos e olhamos pro Jay gritando do andar de cima.
— Quase acabando.
— Bom, bom. Depois da atividade, a gente pode ir comer shabu?
— Ok.
Janjob desceu as escadas com uma expressão mais aliviada no rosto, levando consigo um pouco de shabu para se consolar após o trabalho árduo. Antes de passar, não se esqueceu de cumprimentar o gêmeo, que gostava de provocar.
— Olá, P’Faifah.
— Olá. — Depois de passar pelo Jay, voltei a andar. Mas a pessoa ao meu lado fez uma pergunta.
— Quem era aquele agora?
— Jay, ele é meu melhor amigo.
— Estuda no mesmo curso?
— Desde o ensino médio até a faculdade.
— Vocês já ficaram separados? Ficar junto faz a gente cansar da beleza dele, rouba a cena. — Fomos pra mesma escola na província. Mesmo com muita gente, a beleza avassaladora do Jay o tornou conhecido por todas as séries.
— Então não me siga mais. Vamos nos separar. — Veja só a maneira criativa que P'Faifah encontrou para resolver o problema.
— Demais.
— Estar com alguém tão bonito, que luta por você.
— Então você também tem que ficar longe de mim.
— Eu tô bem. Sou doido, pode ficar comigo. — O que ele disse?
Depois de ouvir isso, só consegui balançar a cabeça e me afastar rapidamente, colocando a pesada caixa de papelão em um canto da sala. Agora tenho mais uma coisa a suportar. Só falta uma pendência: o homem bonito ali mastigando bolo.
— Sendo tão próximo de Jay, você não achou que ia ficar próximo de outra pessoa, né? — Ele não parava.
— Também sou próximo de outras pessoas, mas provavelmente sou mais próximo do Jay. Além disso, esses dias não sei o que aconteceu, mas meus amigos ficam me shippando com o Jay.
— De onde vem essa palavra ship? — Ele franzia a testa, quase virando uma careta.
— É da sua bolha, o lendário FaifahKongkiat.
— Ui, é tão popular assim?
— Espera.
— Tão tímido.
— É engraçado?
— Como você conhece o Kong?
— Você me contou.
— O que mais pode me dizer?
— Parece que vocês dois têm muita química. Quando estão juntos, as meninas gritam. — Como sabemos, P’Faifah ainda não tem um amado, e P’Kong tá paquerando uma garota do departamento. Seja qual for a verdade, a imaginação manda.
— Então você e eu não provocamos gritos? — Ele perguntou enquanto saía da sala.
— Não, eu só causo gritos por causa do Jay.
— Aqui, chama-se sem reação.
— …
— Tenta ship comigo, é bem melhor.
— Com você? Não aceito.
A verdade é que não é só o P’Kong que ele é shippado, é a química dele com a universidade inteira, é difícil contar, só olhar as marcações no Instagram.
Afastei-me um pouco. Mas descendo a escada, meu pulso foi puxado por pelo mais alto. O dono dos olhos de coruja usou força e me arrastou conforme quis, até pararmos em frente ao elevador à esquerda do departamento.
— Podemos usar o elevador também?
— Por que não pode?
— Então… — Fiquei sem palavras, olhei para a pessoa apertando o botão ao meu lado e esperei calma.
— Os segundos anos disseram que vocês não podem usar? Porque podem sim usar. — Uau!!!!
— Então por que não me contou? Levamos um tempão subindo as coisas a pé.
— Eu…
— Sem coração com os calouros. — Minhas pernas quase desabaram de tanto subir e descer, parecia piada. Então o cruel ficou rindo feliz enquanto provocava.
— E aí, como vai? Ship de casal comigo? — Voltou ao assunto antigo de novo.
Você repete isso sem parar.
— Não. Casal dá muita imaginação, se um dia eu quiser algo com alguém, com certeza vai ser difícil de resolver.
— Não tem esperança de eu ter um amor.
— Você não se sente sozinho?
— Olha minha vida, por que eu teria solidão? Só de passar o tempo prestando atenção nas pessoas ao meu redor já basta.
— É bom você se importar com todos igualmente? Visto de um ângulo, parece que você não se importa com ninguém.
— …
— Isso é só sua personalidade, e suas emoções?
— Não é tão profundo. Não tenho dificuldade em tratar bem as pessoas.
— Tem que ser algo diferente, algo que você faz só por aquela pessoa. Mas olhando agora, acho que nunca tive.
— Quem disse que não teve?
— O quê?
A porta do elevador abriu e entramos. A conversa recomeçou.
— Uma vez comprei um ursinho pra um amigo. — Ele disse com o peito estufado.
— Comprou para si também?
— É. Porque nunca comprei ursinho para ninguém, só comprei coelhos de pelúcia, porquinhos e unicórnios pros outros. — Puta que pariu... não devia criar muita expectativa.
— Isso não é o que se chama de especial. Tá brincando?
— Ou será…
— Chega! — O elevador já estava quase no andar de baixo, então encerrei o assunto rapidamente.
— Wine, mas eu pintei o cabelo.
— O que isso tem a ver?
— Então é isso, faz tempo que eu não me importo comigo mesmo…
— …
— Mas eu mudei a cor do meu cabelo rápido, porque tinha medo das pessoas me confundirem. Isso não é especial?
Céus!
A porta do elevador se abriu. Eu não sabia o que responder. E P’Faifah não disse mais nada além de sair para cumprimentar seus amigos do lado de fora como se a conversa anterior… nunca tivesse acontecido.
FIM DO CAPÍTULO