CAPÍTULO 2
Você quer se casar comigo?
CAPÍTULO 2
Você quer se casar comigo?
Por um momento, o ar ficou pesado com o silêncio de Lin Ting. Ele parou de falar.
Em sua mão, segurava com força um guardanapo, que antes era liso e agora estava todo amassado pelos dedos trêmulos.
Ele abaixou os cílios, os olhos escurecidos enquanto mergulhava em pensamentos profundos.
O ar carregava o aroma doce do bolo de chocolate — seu doce favorito.
Mesmo assim, seu coração batia forte no peito, cada pulsar ecoando como ondas. As palavras de Shen Chuhan pareciam pequenas pedras atiradas na água, criando círculos que se expandiam lentamente.
Lin Ting não tinha a intenção de esconder sua cegueira de Shen Chuhan. Só não havia encontrado o momento certo para contar.
Ao ver que Lin Ting não falava nada, Shen Chuhan não o apressou. Observou o nariz levemente avermelhado do jovem e se perguntou se não teria sido direto demais.
— Sr. Lin… — Shen Chuhan falou suavemente, as palavras se misturando ao ar quente como uma brisa calma. — Eu não quis…
— Sim. — Lin Ting sussurrou, os lábios se movendo quase imperceptivelmente. Ergueu os olhos e encarou a luz e a sombra sobrepostas à sua frente, a cena embaçada e indefinida, como uma pintura sem contornos.
A boca de Shen Chuhan ficou entreaberta. Ele foi pego de surpresa. Seu rosto se iluminou de espanto; as sobrancelhas erguidas, os olhos bem abertos.
As sílabas trocadas rapidamente se dissolveram no silêncio, deixando no ar uma tensão palpável.
Nenhum dos dois sentiu necessidade de quebrar aquele momento. Entendiam-se sem palavras. A atmosfera leve de antes, no entanto, deu lugar a um desconforto silencioso e um peso crescente entre eles.
O pomo de Adão de Lin Ting subiu e desceu duas vezes enquanto ele engolia seco, nervoso. Era um sinal claro de ansiedade.
Piscou algumas vezes, tentando dissipar o clima incômodo. Com a voz hesitante, gaguejou:
— Eu… eu nunca quis enganar você… — Sua sinceridade era evidente, mesmo com o nervosismo.
Enquanto falava baixinho, seus dedos delicados continuavam a rasgar o frágil papel — um hábito que tinha sempre que ficava ansioso.
— Porque… nas poucas vezes que fui a encontros às cegas antes, quando a outra pessoa descobria que eu era cego… ela simplesmente ia embora. — As sobrancelhas delicadas se uniram, os cantos dos lábios caíram num traço de tristeza, formando uma expressão quase infantil. — Eu tenho medo… medo de que você…
Seria igual a todos os outros.
Lin Ting agarrou com força o tecido sobre as coxas, os lábios tremendo levemente. Mas não conseguiu terminar o que queria dizer.
Ficar cego era algo que ele jamais imaginara acontecer consigo. Levou muito tempo para aceitar a própria condição — como poderia esperar que os outros a aceitassem de imediato?
Por isso, achava difícil entender como poderia esperar que alguém simplesmente o aceitasse como ele era, especialmente em algo tão significativo quanto a sua cegueira.
Lin Ting abaixou a cabeça, o cabelo bagunçado balançando junto ao seu tremor. Lágrimas começaram a se acumular em seus olhos, espalhando um calor involuntário.
Como não podia ver o rosto de Shen Chuhan, concentrou-se em seus outros sentidos, tentando se firmar ao prestar atenção nos sons vindos do lado dele.
Então, ouviu algo que parecia ser o outro se levantando.
O peito de Lin Ting se apertou, uma onda de inquietação tomou conta dele, e sua respiração ficou presa na garganta.
No instante seguinte, sentiu alguém tocar sua cabeça duas vezes.
A mão de Shen Chuhan era grande e gentil, como a carícia em um filhote, alisando seus fios bagunçados.
— Sr. Lin, por favor, não tenha medo. — A voz de Shen Chuhan era suave e cheia de calor. — Eu não sou tão incrível quanto você possa pensar.
Enquanto falava, os músculos de seu rosto se contraíram levemente ao redor da área marcada pela queimadura. Ele baixou os olhos, fixando-os no topo da cabeça do jovem. — Mas, Sr. Lin, você é um pintor. — Sua voz suavizou ainda mais. — Eu acredito que quem é incrível aqui… é você.
A voz calma e delicada de Shen Chuhan caiu sobre Lin Ting como um bálsamo, acalmando aos poucos as batidas desenfreadas de seu coração.
Shen Chuhan… acredita… que ele é incrível.
Os olhos de Lin Ting se arregalaram em surpresa. Naquele momento, parecia alguém comum, como qualquer outra pessoa.
— De verdade? — Lin Ting ergueu o rosto, as bochechas levemente coradas enquanto tentava localizar a figura de Shen Chuhan.
— Uhum. — Shen Chuhan soltou um som baixo de confirmação. Ele lançou um olhar aos olhos sem expressão do jovem e, involuntariamente, franziu levemente a testa.
Lin Ting endireitou a postura e estendeu a mão em direção à xícara de café ao seu lado. Com os lábios vermelhos, tomou um gole, sentindo o gosto amargo do líquido castanho deslizar pela garganta até se acomodar em seu estômago.
— Obrigado. — A gratidão transbordava na voz de Lin Ting, enquanto seus lábios se curvavam num sorriso que ele não conseguia conter. — Você é a primeira pessoa a me elogiar assim, Sr. Shen. — Sua confissão soava sincera, claramente tocado pelas palavras.
Shen Chuhan ficou um pouco intrigado. — Por que você acha isso? — perguntou.
Lin Ting coçou a nuca de maneira envergonhada. — Ahm… minhas pinturas são publicadas de forma anônima — explicou — Então… não são muitas as pessoas que sabem que o artista por trás delas é, na verdade, cego.
O sorriso de Lin Ting carregava uma mistura de sentimentos — havia nele tanto impotência quanto uma pontada de amargura.
— Minha cegueira foi causada por um acidente — contou Lin Ting. — Onze anos atrás, toda a nossa turma foi ao interior para um treinamento de esboço. Infelizmente, o motorista, cansado, não percebeu uma pedra rolando da montanha.
As pálpebras de Lin Ting baixaram um pouco, e seus cílios longos e grossos projetaram uma sombra bonita, acentuando o contorno natural de seus olhos.
— Nosso carro capotou, e houve muitos feridos. — Sua voz era suave e estável, como se narrasse a história de outra pessoa. — Eu fui um dos sortudos que conseguiu sobreviver. Porém, durante o acidente, cascalhos atingiram meus olhos, danificando a córnea. Quando acordei depois, tudo já estava escuro. Eu não conseguia ver nada.
Shen Chuhan ouviu em silêncio, consciente do quanto a visão significava para alguém que amava pintar.
— Onze anos atrás? — repetiu suavemente, os pensamentos se perdendo no tempo. — Que dia foi, exatamente onze anos atrás?
— Vinte e cinco de setembro. — A resposta de Lin Ting veio sem hesitação, carregada de solenidade ao recordar a data exata. Era algo impossível de esquecer, não importava quanto tempo passasse.
Ele se lembrava claramente da impotência ao ver a enorme rocha despencando contra o carro. Um colega sentado na frente morreu instantaneamente. Os gritos de socorro se misturaram ao som estridente da buzina. Naquele momento, Lin Ting achou que o mundo tinha chegado ao fim.
Shen Chuhan, sentado diante dele, permaneceu em silêncio, mas Lin Ting conseguiu perceber que as mãos do outro tremiam levemente.
— Sr. Shen? — A voz de Lin Ting soou suave, com um traço de arrependimento. — Me desculpe. — Ele baixou o tom, carregado de remorso. — Eu não deveria ter mencionado algo assim.
Shen Chuhan esfregou a cabeça de Lin Ting, um pouco atrapalhado, sem saber o que dizer. As palavras ficaram presas em sua garganta, até que, com educação, pediu:
— Me desculpe… poderia me dar licença um instante? Preciso sair para tomar um pouco de ar.
Ele sabia que não era o momento certo para falar sobre aquilo, mas as emoções o dominavam. Lin piscou, confuso, mas não insistiu. Apenas assentiu, compreendendo a necessidade de privacidade do outro.
Shen Chuhan retirou a mão, sentindo a maciez dos fios do jovem roçarem em sua palma, provocando uma leve coceira. Apesar da vontade de tocá-los novamente, conteve-se. Respirou fundo, girou nos calcanhares e saiu apressado da cafeteria. Ao alcançar a porta, abriu-a e deu um passo para fora, deixando a brisa fria envolver seu corpo.
Os pequenos sinos pendurados na entrada tilintaram outra vez, quebrando a calma dentro do café. Shen Chuhan parou perto da porta, o vento gelado passando por seus ouvidos enquanto permanecia imóvel.
Ele não estava de casaco, então a temperatura de seu corpo, que havia finalmente aquecido, despencou de repente. O vento bagunçava seus cabelos, mas ele não ligava. Enfiou a mão no bolso e puxou um cigarro que havia guardado antes.
Com um leve “pop”, Shen Chuhan conseguiu acender o cigarro em sua mão. Conforme o vento aumentava, pequenas faíscas dançavam no ar, e os cachos de fumaça branca eram levados pela brisa, desaparecendo no céu.
Seu olhar permaneceu fixo no cigarro, observando-o queimar pouco a pouco. Cinzas cinzentas caíam no chão a cada instante, enquanto o brilho sutil da chama refletia em seus olhos profundos, acrescentando um brilho àquela intensidade.
Onze anos atrás, em 25 de setembro, seu padrasto perdera o controle das emoções. Um incêndio engoliu sua casa, levando sua mãe, deixando cicatrizes em seu rosto e destruindo tudo o que possuíam.
No mesmo dia, Lin Ting sofreu um acidente que resultou na perda de seus olhos. Deixando-o cego.
Shen Chuhan não sabia dizer se era apenas azar ou mera coincidência.
Dominado por uma emoção inexplicável, começou a entrar em pânico. Sem conseguir se controlar, virou-se e lançou um olhar através do vidro para o jovem que estava sentado no café.
O outro parecia um pouco nervoso, e Shen Chuhan sentiu que deveria voltar logo.
Mas seus pés pareciam colados ao chão, incapazes de se mover. Faltava-lhe coragem para dar o próximo passo.
De repente, o celular que segurava vibrou várias vezes, chamando sua atenção. Ele levantou a mão e abaixou a cabeça para olhar a tela iluminada. Ali, várias mensagens novas haviam acabado de chegar:
【Irmão, você viu a pessoa? Como está indo?】
【Escuta, irmão, não mostre suas marcas durante o encontro. Eu prometo que a pessoa que arranjei desta vez não vai fugir!】
【Por que você não responde?】
A tela escureceu de repente, refletindo o próprio rosto de Shen Chuhan. Ele não pôde evitar de encarar as cicatrizes feias em sua pele. As marcas ásperas e irregulares pareciam cobrir cada centímetro de seu rosto e, ao olhá-las, um sentimento inexplicável de repulsa tomou conta dele.
Shen Chuhan não pôde deixar de pensar: Lin Ting não podia ver. Se soubesse que ele era assim… se sentiria enganado?
O vento gelado batia em seu rosto como uma faca cega. De repente, uma mãe com seu filho passou ao lado dele. O garotinho, todo agasalhado como um bolinho de arroz, olhou para o rosto de Shen Chuhan e soltou:
— Mamãe! O rosto daquele tio é tão assustador!
A voz infantil pairou no ar, enquanto a mãe rapidamente cobria a boca do menino. Pediu desculpas a Shen Chuhan e puxou o filho apressadamente para longe.
Shen Chuhan observou as últimas faíscas desaparecerem antes de se virar, abrir a porta de vidro e voltar para a cafeteria.
Do outro lado, Lin Ting estava atento, esperando para ver se Shen Chuhan retornaria, temendo que ele arranjasse uma desculpa para simplesmente ir embora. Seu coração batia tão alto que só relaxou quando ouviu o som dos passos familiares se aproximando.
Somente então sentiu um alívio, certo de que Shen Chuhan não havia desaparecido e estava, de fato, voltando.
— Me desculpe — disse o homem, a voz fria e carregando um leve cheiro de fumaça. — Deixei o Sr. Lin esperando muito.
Lin Ting sacudiu a cabeça rapidamente e respondeu que não se importava: — Não tem problema, era só o café do Sr. Shen. Ele esfriou. Gostaria de pedir outra bebida?
Shen Chuhan não respondeu. Apenas ficou parado diante de Lin Ting em silêncio, antes de se inclinar e segurar gentilmente o pulso dele.
Quando Shen Chuhan segurou delicadamente o pulso de Lin Ting, um calor inesperado se espalhou pelo toque, surpreendendo-o. Lin Ting ergueu a cabeça, as sobrancelhas franzidas de confusão. Ele se dirigiu a Shen Chuhan com incerteza na voz, buscando esclarecimento:
— Sr. Shen?
— Eu tenho algo para lhe dizer. — As palavras de Shen Chuhan saíram mais rápidas do que o normal. Então, ele segurou suavemente a mão de Lin Ting e a levou ao próprio rosto.
O toque suave da palma de Shen Chuhan contra a sua fez as bochechas de Lin Ting se aquecerem. Por estar profundamente envolvido com a pintura, Lin Ting era extremamente sensível ao toque de diferentes superfícies. Por isso, quando Shen Chuhan segurou sua mão e a pressionou contra a própria face, Lin Ting entendeu instantaneamente a intenção do outro.
A mente de Lin Ting girava em confusão e preocupação. Como aquilo podia estar acontecendo? Eles se conheciam havia menos de duas horas! Por que Shen Chuhan já estava iniciando gestos tão íntimos? Era cedo demais, rápido demais. Esses pensamentos ecoavam em sua cabeça, deixando-o atordoado e sem saber como reagir.
Seu coração batia como um cervo assustado, fazendo sua cabeça girar de tontura. Ele lutava para encontrar as palavras, gaguejando:
— Shen… Sr. Shen, você… você…
— Shh. — Shen Chuhan o silenciou suavemente, o olhar coberto por uma ternura calma. Delicadamente, pegou um dos dedos de Lin Ting e o guiou até sua própria cicatriz. — Sinta bem. — Encorajou.
A voz do homem soava profunda e suave, como um instrumento musical. Lin Ting estava nervoso e engoliu em seco. Seguiu o conselho de Shen Chuhan, percorrendo devagar a pele, cobrindo cada parte com cuidado, passo a passo.
Ele podia sentir claramente que aquela parte da pele era diferente. Era áspera e um pouco irregular, marcas deixadas após as cicatrizes terem cicatrizado.
— Isto é… — A voz de Lin Ting mal passava de um sussurro. — É sua marca de nascença? — perguntou baixinho.
— Algo parecido. — Confirmou Shen Chuhan.
— Então eu não preciso me preocupar em não conseguir encontrá-lo no futuro. — disse Lin Ting, um tom de alívio em sua voz.
Ao sorrir, suas sobrancelhas se arquearam; Shen Chuhan olhou para Lin Ting e sentiu um calor se espalhar pelo coração, suavizando sua expressão.
— É uma queimadura. — Admitiu Shen Chuhan com um movimento solene da cabeça. — Sr. Lin, eu também não sou uma pessoa perfeita. — Sua confissão carregava vulnerabilidade e honestidade.
— Então… — disse Shen Chuhan suavemente, segurando com cuidado o dedo de Lin Ting.
— Você gostaria de se casar comigo?
FIM DO CAPÍTULO