CAPÍTULO 1
Você é cego?
CAPÍTULO 1
Você é cego?
O inverno daquele ano estava ainda mais frio que o normal.
Lin Ting estendeu a mão e tocou a maçaneta da porta. O metal gelado fez seus dedos pálidos ficarem vermelhos no mesmo instante. Com cuidado, ele empurrou a porta de vidro, e o pequeno sino acima dela soou suavemente. O ar quente do café o envolveu de imediato, afastando o frio que grudava em seu corpo.
Ele arregalou levemente os olhos, tentando enxergar o mundo embaçado à sua frente. As luzes penduradas no teto estavam um pouco brilhantes demais, o que o fez semicerrar os olhos por um instante. Seu cachecol ainda estava enrolado no pescoço, cobrindo a metade inferior de seu rosto e mantendo-o aquecido e confortável.
A cada respiração, a ponta do nariz — pequeno e reto — roçava no tecido macio do cachecol, transmitindo uma estranha sensação de calma.
Lin Ting piscou algumas vezes, tentando se adaptar ao ambiente. Lentamente, estendeu a mão e tocou a cadeira ao lado. Ficou parado, sem saber se deveria seguir em frente ou ficar ali. Antes que pudesse decidir, um dos atendentes do café o notou e rapidamente foi até ele.
— Senhor, precisa de ajuda? — perguntou o garçom em voz baixa.
Lin Ting se sobressaltou com a aproximação repentina, mas logo se acalmou. Ajustou o cachecol ao redor do pescoço e, com um pequeno sorriso educado, assentiu antes de dizer gentilmente:
— Poderia me levar até um lugar perto da janela, por favor?
Enquanto falava, apontou para os próprios olhos e explicou num tom suave, a voz abafada pelo cachecol:
— Eu... não enxergo.
O garçom piscou, surpreso. Quando o jovem entrou, ele parecia se mover com naturalidade. Se não tivesse reparado na hesitação de Lin Ting ao tentar encontrar a cadeira, provavelmente não teria percebido que ele era cego.
— Claro, senhor. — respondeu prontamente.
Ele então segurou o braço de Lin Ting com cuidado, guiando-o passo a passo até a última mesa junto à janela. Ao chegar, perguntou com delicadeza:
— O senhor está esperando amigos?
Enquanto falava, seu olhar percorreu o corpo do rapaz, procurando instintivamente pela bengala branca que normalmente acompanhava pessoas cegas, mas não encontrou nenhuma.
Lin Ting endireitou a postura, um leve sorriso surgindo em seus lábios. Um traço de embaraço passou por seu rosto quando ele admitiu:
— Na verdade... estou aqui para um encontro às cegas.
Instintivamente, seus dedos se moveram devagar, apertando a barra da própria roupa e formando pequenos vincos no tecido macio.
Essas eram as roupas que ele havia escolhido com tanto cuidado no dia anterior, com a ajuda da família.
Na verdade, Lin Ting vinha se preparando para esse encontro às cegas há mais de duas semanas.
Conforme planejado, ele chegou mais cedo ao local combinado para se familiarizar com o ambiente e, sem perceber, dedicou atenção especial à própria aparência naquele dia.
Para completar, estava tão nervoso com o encontro que sequer conseguiu dormir na noite anterior. Sua mente passou horas imaginando como seria a conversa, se dariam certo, se algo daria errado... uma mistura de expectativa e ansiedade.
Ele também havia deixado intencionalmente sua bengala guia em casa, querendo parecer o mais “normal” e saudável possível diante de seu par. Mesmo que o encontro não saísse como esperado, ainda queria causar uma boa impressão.
— Será que eu estou estranho? — Lin Ting perguntou baixinho, inclinando um pouco a cabeça.
O garçom levou um segundo para observá-lo melhor.
O jovem sentado à sua frente era, sem dúvida, bonito — seus olhos em tom pêssego eram cativantes, com cílios longos e levemente curvados que os emolduravam. As bochechas traziam um tom suave de rosa, e a pele clara, delicada, parecia quase brilhante sob a luz. No geral, Lin Ting transmitia uma sensação acolhedora, alguém com quem era fácil querer conversar.
— De forma alguma, senhor. — Garantiu o garçom. Ele ajudou Lin Ting a se sentar e, atenciosamente, pediu duas xícaras de café.
Antes que o garçom se afastasse, Lin Ting o agradeceu educadamente. Em seguida, colocou as mãos sobre a mesa e entrelaçou os dedos, o gesto revelando sua tensão.
O relógio na parede atrás dele fazia um suave tic-tac a cada movimento do ponteiro dos minutos. Mesmo sem poder ver, Lin Ting ouvia cada som com nitidez. Desde que perdera a visão, sua audição parecia ter se aguçado, captando pequenos ruídos que outros dificilmente perceberiam — como o som delicado do relógio ao fundo.
Naquele momento, até o batimento do próprio coração parecia mais alto que o barulho do trânsito do lado de fora.
O encontro tinha sido arranjado por sua irmã, que morava no exterior. Ela descrevera o rapaz como alguém bonito e de boa família, mas havia feito um alerta: "Ele pode ser um pouco frio com os outros".
— Shen Chuhan... — Lin Ting murmurou quase para si mesmo, a voz baixa, como se provasse o nome com a ponta da língua. Ele se perguntou se a pessoa seria realmente tão fria quanto o nome sugeria.
Apertou os lábios e manteve os olhos voltados para a mesa. Apesar da visão embaçada, ainda conseguia distinguir os contornos das duas xícaras de café. As costas de suas mãos estavam vermelhas de tanto apertá-las, mas ele parecia nem notar a dor.
Dessa vez, Lin Ting não havia conversado diretamente com o pretendente. Toda a negociação tinha sido feita por sua irmã. Ele já havia ido a outros encontros no passado, mas todos terminavam mal por conta de sua deficiência visual.
Ele só queria que, dessa vez, pudessem se conhecer cara a cara, de forma honesta. Sem pena, sem julgamentos. E que, depois de algum tempo juntos, o outro pudesse decidir por si mesmo se queria ou não continuar ao lado dele.
Enquanto os minutos passavam, Lin Ting perdeu a noção do tempo.
De repente, o silêncio do café foi quebrado pelo som dos sinos da porta. Lin Ting imediatamente virou o rosto em direção ao som. A luz acima de sua cabeça ainda era clara e quente, banhando seu rosto em um tom dourado.
Ele prendeu a respiração, atento ao som dos passos que se aproximavam.
Eram sapatos de couro, batendo ritmicamente no chão de madeira. Primeiro suaves, depois cada vez mais nítidos — um passo, depois outro — até que pararam bem diante dele.
Logo após os passos cessarem, Lin Ting ouviu o som suave da cadeira à sua frente sendo puxada. Ficou claro - alguém havia acabado de se sentar diante dele.
Ele piscou rapidamente, e seus dedos esbarraram sem querer na xícara de café. Podia ouvir nitidamente o som do tecido enquanto a outra pessoa tirava o casaco.
— Olá... Eu... — A voz masculina soou de repente. No mesmo instante, o coração de Lin Ting deu um salto. Antes que o homem pudesse terminar a frase, Lin Ting o interrompeu às pressas, sem pensar.
— Olá! Meu nome é Lin Ting, tenho 25 anos, me formei na Universidade X em Artes e agora trabalho como freelancer. Tenho uma renda estável todo mês. Nunca tive um relacionamento antes, então não tenho ex...
Ele despejou as palavras que havia ensaiado incontáveis vezes em sua mente. Mas, de tão nervoso, sua voz soava engessada e um pouco estranha. No meio da fala, sua mente ficou em branco, e ele esqueceu metade do que queria dizer. No fim, tudo saiu meio embaralhado e sem muito sentido.
Quando a última palavra se perdeu no ar, Lin Ting finalmente piscou. Ele tinha o hábito de manter os olhos bem abertos quando ficava nervoso — e agora se perguntava se aquilo havia assustado o outro.
O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade.
Naqueles poucos segundos, Lin Ting sentiu como se tivesse assinado sua própria sentença de morte.
O que foi que ele acabou de fazer...?
Seu coração batia forte no peito, e cada segundo de pausa parecia um castigo interminável. Só então se deu conta de que tinha interrompido o outro no meio da fala.
O pânico tomou conta dele.
O que ele deveria fazer agora? Será que o outro acharia que ele tinha sido incrivelmente rude? Será que tinha estragado tudo logo no primeiro instante?
As sobrancelhas delicadas de Lin Ting se franziram, e a preocupação estava estampada em seu rosto. Ele pensou em pedir desculpas, mas antes que pudesse abrir a boca, ouviu a figura à sua frente se mover. Uma voz grave soou, quebrando o silêncio pesado entre eles.
— Olá, meu nome é Shen Chuhan.
Era uma voz agradável, firme e tranquila.
Havia uma leve rouquidão nela, que carregava um tom magnético e acolhedor. Só de ouvi-la, o coração acelerado de Lin Ting pareceu se acalmar. Ele engoliu em seco, o pomo de adão se movendo algumas vezes, enquanto seus cílios tremiam levemente.
O homem à sua frente parecia muito mais calmo do que Lin Ting havia imaginado. Não havia riso debochado nem constrangimento - apenas uma apresentação natural, como se tudo estivesse perfeitamente bem.
Isso fez Lin Ting relaxar um pouco. O homem não parecia nada rude como sua irmã havia sugerido.
Ele mordeu levemente o lábio inferior, um hábito inconsciente quando estava nervoso. Estendeu a mão devagar, encontrou a xícara de café e tomou um pequeno gole. O calor da bebida não foi suficiente para acalmar o frenesi no peito. Enquanto isso, o vermelho de suas bochechas se intensificava visivelmente. Não sabia se era por causa do aquecimento do café ou por causa do homem à sua frente — talvez os dois —, mas se sentia estranhamente mais agitado do que imaginara.
Lin Ting escutava cada palavra de Shen Chuhan com atenção. Quando ouviu o nome de sua antiga universidade, ele congelou por um instante. Lentamente, pousou a xícara sobre a mesa e arregalou um pouco os olhos, surpreso.
— O senhor Shen também se formou na Universidade X? — perguntou, a animação evidente na voz.
O homem do outro lado fez uma breve pausa antes de responder:
— Sim. Para ser exato, acho que sou uns dois anos mais velho que você, e me formei em finanças.
No final da frase, havia um leve sorriso na voz de Shen Chuhan. Ao encarar o jovem sentado diante dele, seus olhos suavizaram sem que ele percebesse.
— Que coincidência! — disse Lin Ting, e seu rosto se iluminou de entusiasmo.
— Então... que tipo de trabalho você faz, Sr. Lin? — Shen Chuhan perguntou com um tom curioso, mantendo o olhar fixo em Lin Ting enquanto esperava sua resposta.
Lin Ting piscou duas vezes e a alegria que antes irradiava de seu corpo foi silenciosamente contida. Ele abaixou levemente a cabeça, os dedos batendo na superfície lisa da mesa. Hesitou por um longo tempo antes de responder:
— Bem... eu pinto.
Ele estava em um dilema. Deveria ser honesto e contar a Shen Chuhan que era cego?
Uma parte dele queria se abrir, mas outra hesitava. Ele temia que, se Shen Chuhan descobrisse que ele era cego e ainda assim trabalhava como pintor, achasse aquilo estranho ou inacreditável.
E se contasse agora... Shen Chuhan com certeza se levantaria e iria embora imediatamente.
Exatamente como aquelas pessoas que vieram antes - que sorriam educadamente, diziam algumas palavras gentis e depois nunca mais apareciam.
Mas o homem sentado à sua frente parecia diferente - alguém raro, com quem ele realmente compartilhava interesses em comum e com quem era fácil conversar. Isso fez Lin Ting hesitar ainda mais. Ele não queria estragar o momento revelando sua cegueira e perder alguém que parecia entendê-lo tão bem.
Ele não queria acabar com aquela conexão nascente.
Só porque era cego...
Com esse pensamento pesando em seu coração, a excitação de Lin Ting aos poucos se dissipou. Ele baixou os olhos e continuou conversando com Shen Chuhan. Sem que percebesse, uma hora e meia se passou.
— Sr. Lin, já estamos conversando há um bom tempo. Vamos comer algo — Shen Chuhan disse educadamente, cortando a conversa com delicadeza. Quando um garçom passou, ele o chamou e entregou o cardápio primeiro para Lin Ting.
— Dê uma olhada e veja se tem algo que gostaria," disse num tom caloroso.
O couro cabeludo de Lin Ting formigou de nervoso. Ele abaixou a cabeça rapidamente e estendeu a mão para sentir o cardápio à sua frente, tentando ao máximo parecer uma pessoa comum. Mesmo sem conseguir ler, folheou algumas páginas, fingindo pensar no que pedir.
— Eu... eu como de tudo, Sr. Shen... o senhor pode escolher — disse com a voz trêmula, revelando claramente sua ansiedade.
Shen Chuhan não respondeu muito. Apenas soltou um "hmm" pensativo, pegou o cardápio de volta e começou a analisá-lo. Depois, voltou sua atenção para Lin Ting, perguntando sobre seus hábitos e preferências alimentares.
Do outro lado da mesa, Lin Ting estava tão nervoso que parecia que seu coração ia saltar do peito. Suas mãos, caídas ao lado do corpo, agarravam a barra da roupa com força, as unhas cravando-se nas palmas quase a ponto de doer. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto esperava, ansioso, pela reação de Shen Chuhan, sua mente girando em preocupação.
Com o tempo, Lin Ting percebeu que seu segredo ainda não havia sido descoberto.
Ele provavelmente não notou, pensou Lin Ting.
Prestou atenção à conversa entre Shen Chuhan e o garçom, tentando captar qualquer traço de dúvida ou impaciência no tom do outro. Mas não detectou nada, não havia suspeita nem desconforto na voz de Shen Chuhan.
— Eu pedi algo simples. — Shen Chuhan disse calmamente ao devolver o cardápio ao garçom. Então, voltou seu olhar para Lin Ting com um sorriso gentil. — Na próxima vez que nos encontrarmos. — Continuou. — Quero levar o Sr. Lin para conhecer um restaurante que eu gosto.
Suas palavras transbordavam sinceridade, e Lin Ting não pôde evitar sentir-se tocado pelo convite.
— Só se o Sr. Lin estiver disposto — Acrescentou Shen Chuhan, a voz suave e carregada de uma leve esperança, como se realmente estivesse ansioso pela resposta de Lin Ting.
Ele permaneceu calmo e acolhedor o tempo todo, falando como se já se conhecessem há muito. E quando mencionou casualmente o próximo encontro, o coração de Lin Ting bateu mais rápido.
Lin Ting soltou discretamente o ar que nem tinha percebido que estava prendendo, sentindo uma onda de alívio tomar conta de si. Estava grato por Shen Chuhan não parecer se importar com nada, e por aquele encontro não ter terminado como os anteriores.
Reunindo os pensamentos e acalmando o coração acelerado, Lin Ting assentiu levemente e disse, quase num sussurro:
— Está bem.
O café serviu a comida muito rápido. Quando o cheiro doce chegou até a ponta do nariz de Lin Ting, ele se sentiu um pouco envergonhado.
Em casa, sua família sempre levava em consideração sua baixa visão na hora de servir as refeições. Eles arrumavam os pratos como se fosse o mostrador de um relógio — colocando os alimentos que ele gostava mais perto e os que não gostava um pouco mais distantes. Isso tornava tudo mais fácil para ele.
Além disso, a água ou o suco ficavam sempre ao lado esquerdo, enquanto os guardanapos costumavam ficar à direita. Ao longo dos anos, Lin Ting se acostumou a essa organização. Mas agora, sentado em um lugar público, sem ninguém para discretamente guiá-lo, ele não sabia por onde começar.
Infelizmente, já que seu encontro às cegas não conhecia sua situação especial, ele naturalmente não perguntaria onde estava cada prato na mesa.
E se ele perguntasse agora... só deixaria tudo constrangedor.
Um dos motivos pelos quais Lin Ting hesitava tanto em admitir a verdade era porque sabia — lá no fundo — que no momento em que dissesse que não conseguia ver os pratos ou perguntasse onde estavam, tudo que ele vinha tentando esconder desde o começo do encontro viria abaixo.
Ele não queria que Shen Chuhan se sentisse desconfortável ou, pior, começasse a tratá-lo diferente por pena ou obrigação. Acima de tudo, ele não queria quebrar a atmosfera suave e confortável que tinham construído juntos — uma paz rara e frágil demais para arriscar.
Mas a mesa à sua frente era um mistério. Ele não fazia ideia de onde estavam os pratos, se havia uma colher à sua direita ou se poderia derrubar um copo por acidente. Sua garganta se apertou, e os cantos dos olhos arderam com lágrimas que ele tentou segurar. Por um momento, ficou completamente imóvel, os dedos cerrados sobre o colo, fingindo que estava tudo bem.
Nesse instante, a voz calma de Shen Chuhan soou gentilmente:
— Não sei se o que pedi é do seu gosto, Sr. Lin.
Lin Ting sentiu o olhar atento do homem à sua frente e, com algum esforço, conseguiu curvar os lábios em um pequeno sorriso.
— Bem, eu realmente gosto. — respondeu, tentando tranquilizar Shen Chuhan apesar do turbilhão dentro de si.
Depois disso, decidiu tomar a iniciativa. Pegou o garfo, esticou o braço pela mesa e, com cuidado, espetou o bolo sem açúcar de Shen Chuhan.
Shen Chuhan ergueu levemente as sobrancelhas, surpreso. Ele olhou para o brownie de chocolate que havia pedido para o jovem e depois para o seu próprio bolo sem açúcar. Lin Ting não parecia notar que tinha pego o prato errado. Ele enfiou uma grande garfada na boca, as bochechas inflando como as de um pequeno hamster.
Quando o sabor suave se espalhou pela boca, Lin Ting elogiou o café de forma um pouco mecânica pela qualidade de seus bolos. Então, sem perder tempo, estendeu a mão novamente e espetou mais um pedaço do bolo sem açúcar de Shen Chuhan, determinado a manter as aparências e evitar mais constrangimento.
Shen Chuhan inclinou levemente a cabeça, um traço de confusão surgindo em seus olhos. Lin Ting não tinha acabado de dizer que gostava de chocolate? Por que ele estava comendo o bolo sem açúcar?
Ainda em silêncio, Shen Chuhan empurrou gentilmente o prato na direção de Lin Ting. E mesmo com os olhos bem abertos, ele não percebeu nada - completamente alheio ao gesto de Shen Chuhan.
Quando Lin Ting estendeu a mão pela terceira vez — agora que o prato estava bem à sua frente — sua mão esbarrou acidentalmente na faca e no garfo, roçando em um guardanapo. Sem perceber, ele o pegou e o levou à boca.
— Espere! — Shen Chuhan exclamou, impedindo-o. Instintivamente, segurou o pulso de Lin Ting, seus dedos calejados pressionando a pele quente.
Ele tirou o guardanapo e devolveu a Lin Ting. Ao sentir a textura do tecido, Lin Ting sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Acabou. — murmurou baixinho. Sua farsa tinha sido descoberta.
Shen Chuhan soltou sua mão e voltou a se sentar, mantendo o olhar fixo no rosto de Lin Ting, que estava ficando cada vez mais vermelho. O ambiente ficou silencioso por um instante, quebrado apenas pelo som do aquecedor funcionando e do ponteiro do relógio girando.
Depois de um longo silêncio, Shen Chuhan endireitou lentamente a postura e virou a cabeça para olhar pela janela ao seu lado. Seu olhar parecia atravessar o vidro, observando a rua lá fora como se estivesse imerso em pensamentos profundos.
Suas sobrancelhas fortes e o nariz bem definido se refletiam no vidro. Mesmo que seu cabelo negro estivesse um pouco comprido sobre a testa, não escondia os traços marcantes e refinados de seu rosto — traços que chamavam atenção sem esforço.
Então, em silêncio, ele afastou o cabelo que quase cobria seu olho esquerdo, revelando a pele marcada por uma grande cicatriz de queimadura — escura e impossível de ignorar.
— Quero fazer uma pergunta atrevida.
Shen Chuhan olhou diretamente para Lin Ting. O coração de Lin Ting pulou para a garganta no mesmo instante.
Ele engoliu em seco, sentindo como se não conseguisse respirar.
E então ouviu a voz calma de Shen Chuhan pronunciar as palavras que soaram como um julgamento silencioso:
— Sr. Lin... você é cego?
FIM DO CAPÍTULO