CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 6
— Ah.
Zhao Min segurava um presente pesado em uma mão e erguia a barra da roupa com a outra, dando passinhos curtos na direção de Xiao Ji.
Os tijolos azuis, bem alinhados, estavam cobertos por uma fina camada de geada, deixando pegadas claras enquanto o jovem avançava. Ele subiu os degraus de pedra apressado, largou a barra da roupa e se curvou rapidamente para Xiao Ji:
— Vossa Alteza, espero que esteja bem.
Xiao Ji soltou uma risadinha ao ver o rosto vermelho de frio do jovem e fez um gesto para que Zhao Min se sentasse.
— Por que voltou tão cedo, apenas algumas horas depois?
— Ah… — Zhao Min contou tudo o que havia dito ao pai quando voltou para casa e, em seguida, agradeceu de forma sincera:
— Muito obrigado, Vossa Alteza, por estar disposto a me ajudar. Caso contrário, eu... Enfim, obrigado.
Enquanto falava, Zhao Min colocou os presentes sobre a mesa de Xiao Ji. Notou o restinho de chá no fundo da xícara dele e rapidamente pegou o bule para servir um chá quente.
— Vossa Alteza, por favor, tome um chá.
Xiao Ji observou Zhao Min se mexendo de um lado para o outro como um passarinho nervoso, e um sorriso involuntário surgiu nos cantos de seus lábios. Apoiado no queixo, ficou assistindo o jovem terminar de servir o chá e se sentar obedientemente, às vezes piscando as longas pestanas e lançando olhares furtivos na sua direção.
Como podia existir uma criaturinha tão bem-comportada?
O coração de Zhao Min disparava ao sentir o olhar fixo de Xiao Ji sobre si. Tinha a impressão de estar sentado ali sem roupas. Incapaz de suportar o silêncio, murmurou baixinho:
— V-Vossa Alteza, não vai abrir os presentes para dar uma olhada?
— Hmm, abra você para mim.
— Ah, certo. — Zhao Min de repente se lembrou que alguém tão poderoso e de alto escalão quanto Xiao Ji, um grande vilão, estava acostumado a ser servido.
Ele obedeceu e desembrulhou com cuidado os presentes que o pai o havia mandado trazer, retirando um a um os itens preciosos que nunca tinha visto antes e colocando-os diante de Xiao Ji.
Havia cinco no total: um ruyi de jade[1], um sapo dourado[2], ágatas, produtos de coral e outros. Zhao Min não fazia ideia de quanto tudo aquilo valia.
[1] Ruyi (如意): Um cetro cerimonial que simboliza poder e boa sorte, dado como presente de prestígio a oficiais de alta patente.
[2] Lingzhi (灵芝): Um símbolo do feng shui que representa riqueza e prosperidade, usado como presente para desejar sucesso financeiro.
Xiao Ji lançou apenas um olhar para os objetos triviais à sua frente, sem o menor interesse. Mas notou que Zhao Min olhava para eles com extremo cuidado, e havia um brilho de admiração em seu olhar, um brilho impossível de disfarçar, deixando claro que provavelmente nunca tinha visto joias assim.
Durante os anos de Pingqing, o Marquês de Haiping havia sido governador de Jiangnan[3], comandando cem mil soldados em Hainan. Em dez anos de governo, certamente encheu os bolsos com a riqueza do povo. Ainda assim, esse garotinho, mesmo que fosse um falso herdeiro, havia descoberto recentemente sua verdadeira identidade. Como era possível que nunca tivesse visto essas quinquilharias comuns?
[3] Jiangnan (江南): A região mais rica da China. O governo local era extremamente lucrativo e frequentemente alvo de corrupção.
— Você gosta delas? Xiao Ji perguntou.
Zhao Min ergueu os olhos, confuso, para encarar Xiao Ji, mas rapidamente baixou o olhar como um coelhinho assustado.
— E-Eu não diria isso. Só acho bonitas. — Ele nunca tinha visto coisas tão bonitas.
Xiao Ji pigarreou, achando que foi uma boa decisão ter mandado Zhuo Lun investigar mais sobre a situação de Zhao Min.
Ele se levantou e disse:
— Está frio aqui fora. Vá para dentro, sente-se um pouco. Mais tarde, me acompanhe para a refeição.
— Ah, sim. — Zhao Min obedeceu e seguiu Xiao Ji. Notando que ele não pediu para levar os presentes para dentro, ficou sem graça de perguntar, então correu para colocá-los de volta nas caixas e carregou tudo.
Dentro da residência, Zhao Min perguntou:
— Vossa Alteza, onde devo colocar essas coisas?
Xiao Ji entrou e acendeu o fogo no fogão. Quando saiu do quarto, viu Zhao Min parado na porta, abraçando as caixas com uma expressão perdida.
Xiao Ji franziu levemente o cenho e, por fim, se aproximou para pegar tudo dos braços de Zhao Min.
— Esses são presentes que o Pai preparou com cuidado. Fico feliz que Vossa Alteza tenha gostado...
Porém, como os presentes já estavam desembrulhados e sem fitas, Xiao Ji pegou dois e os jogou sem cerimônia no canto, debaixo de uma mesa.
— Venha.
Zhao Min: — … Ah, sim.
Pelo visto, Xiao Ji era rico demais para se importar com aquelas coisas.
Ele seguiu Xiao Ji para dentro. Ao levantar a cortina de contas da sala externa, descobriu um mundo totalmente diferente.
A pesada cama de dossel de sândalo estava ali apenas como enfeite, ao contorná-la, encontrou outro cômodo.
Que casa única.
Depois de atravessar várias camadas de cortinas de seda grossa, chegou a um pátio iluminado.
Diferente do estilo luxuoso do lado de fora, aqui os móveis eram simples. Quatro quartinhos de madeira cercavam um pátio pavimentado com pedras planas, e de um lado floresciam algumas ameixeiras vermelhas em todo o esplendor.
Atravessando o pátio, chegaram ao salão principal, e Xiao Ji abriu a porta.
Assim que Zhao Min entrou, sentiu um calor intenso, mas não havia fogueira ou braseiro à vista.
Que lugar misterioso.
Xiao Ji imediatamente tirou a capa e a jogou nos braços de Zhao Min.
— Pendure.
Zhao Min segurou obedientemente a pesada capa de pele de raposa e a pendurou direitinho. Depois observou Xiao Ji tirar as botas com calma e se recostar num divã. Curioso, perguntou:
— Vossa Alteza, esta casa é bem diferente.
— Xiao Ji olhou para Zhao Min, que estava parado longe, e franziu o cenho:
— Não vai se aproximar? Dá para me ouvir daí?
— Sim. — Zhao Min imitou Xiao Ji e tirou as próprias botas, colocando-as alinhadas, antes de entrar no tapete macio. Ao se sentar na almofada ao lado de Xiao Ji, perguntou, preocupado:
— Não vou sujar o tapete de Vossa Alteza, vou?
Xiao Ji lhe entregou uma xícara de chá de gengibre e respondeu com simplicidade:
— Não.
— Isso é bom. — Zhao Min deu um pequeno gole no chá que Xiao Ji havia lhe oferecido e, no mesmo instante, sua expressão mudou. Apenas pelo cheiro, ele não tinha percebido que era chá de gengibre, mas assim que o líquido entrou em sua boca, o estímulo picante dominou seu paladar. Ele não pôde evitar colocar a língua para fora: — É, é tão picante.
Xiao Ji: — ... Você nunca tomou chá de gengibre?
Seu tom carregava desprezo, mas sua mão se estendeu instintivamente para pegar um pedaço de fruta cristalizada coberta com a mais doce camada de mel em pó: — Coma isso para aliviar.
Zhao Min ainda segurava a xícara de chá, olhando para a fruta cristalizada que Xiao Ji lhe oferecia. Sentindo-se incômodo demais, quis recusar com um movimento de cabeça, mas inesperadamente Xiao Ji pegou sua xícara e enfiou a fruta em suas mãos.
Zhao Min deu uma mordida devagar, e seus olhos brilharam.
No instante em que ela entrou em sua boca, sentiu o doce e perfumado pó de mel. Quando mordeu de verdade, a polpa levemente mastigável da ameixa liberou generosamente sua acidez.
Era deliciosa.
Xiao Ji virou de uma vez a xícara de chá de gengibre que havia tomado de Zhao Min, observando o tímido Zhao Min com uma emoção indescritível.
Era sufocante.
— Está bom? — Xiao Ji perguntou.
Zhao Min assentiu, percebendo que seus lábios estavam manchados com um pouco do pó branco de mel. Sua pequena língua se esticou para tentar lamber, mas não conseguiu alcançar, então respondeu primeiro: — Está bom.
Sentindo-se desconfortável, estendeu a língua de novo para lamber os lábios.
Xiao Ji: — ...
— Coma, não fique lambendo.
Zhao Min: — ...
— Oh, oh.
Que feroz! Nem deixava ele lamber o açúcar.
Depois que Zhao Min terminou a fruta, várias figuras estranhas apareceram no pátio.
Vestindo armaduras prateadas, máscaras com presas e carregando armas diversas... esses servos entraram em silêncio trazendo pratos requintados, enchendo a mesa de comida.
Zhao Min ficou boquiaberto.
Durante o serviço da refeição, não pôde deixar de perguntar baixinho a Xiao Ji, que estava lendo ao lado dele: — Sua Alteza, por que eles estão tão cobertos assim? Eu notei que os servos do pátio da frente não estavam vestidos assim.
Era natural, porque aquelas pessoas não eram servos.
Xiao Ji abaixou o olhar, encarou o pequeno inocente que fazia perguntas e riu baixinho: — Porque é aqui que eu durmo. Eles estão aqui para me proteger de tentativas de assassinato.
Zhao Min: …
Zhao Min só tinha começado a aprender a ler aos oito ou nove anos e raramente saía da residência do Marquês. Se não fosse pelo sonho que tivera dessa vez, provavelmente não saberia que, além dos textos clássicos, também existiam romances de entretenimento no mundo.
Depois do sonho, Zhao Min tinha saído para comprar alguns romances, e neles estava escrito que muitas pessoas odiavam grandes vilões como Xiao Ji e arranjavam maneiras de matá-los.
Acontece que essas coisas também existiam no mundo real, embora o mundo deles fosse, de qualquer forma, um romance.
— Tudo bem. — Zhao Min disse devagar e, depois de pensar por um momento, acrescentou: — Então Sua Alteza não deveria deixar ninguém entrar. Já que é tão perigoso, é melhor que ninguém saiba onde fica o quarto de dormir de Sua Alteza.
Depois de dizer isso, Zhao Min de repente percebeu, e agora? Xiao Ji o tinha deixado entrar.
— Eu, eu sou a exceção. — Zhao Min olhou para o olhar perigoso de Xiao Ji e explicou fraquinho: — Eu, eu estou aqui para dormir com Sua Alteza, então eu posso entrar.
Xiao Ji ficou em silêncio. Ele conteve o impulso, fechou o livro nas mãos, desceu do pequeno divã para sentar ao lado de Zhao Min e beliscou sua bochecha: — Coma algo.
Zhao Min deixou Xiao Ji apertar suas bochechas algumas vezes e então começou a comer com ele. Os pratos da residência do Regente eram extremamente requintados. Depois de provar um pouco de cada coisa, sua barriga já estava cheia e não aguentava mais nada.
— Eu não consigo comer mais. — Zhao Min olhou para a pilha de comida empilhada como uma pequena montanha em seu prato de jade e abanou a mão para Xiao Ji: — Eu estou muito cheio.
Xiao Ji: — Mm.
Ele tinha comido menos que um passarinho.
Mas Xiao Ji podia ver que esse herdeiro da residência do Marquês Haiping provavelmente não era muito favorecido.
— Tudo bem. Se não consegue comer, então não coma. — Ele terminou toda a comida que Zhao Min tinha deixado, seu apetite enorme deixando Zhao Min de boca aberta.
Após a refeição, Xiao Ji não falou com ele e pegou uma lança para treinar artes marciais no pátio.
Zhao Min se sentou nos degraus e ficou observando.
Sem perceber, o tempo passou.
Zhao Min tinha vindo hoje para entregar presentes a Xiao Ji e, depois disso, ficou para o chá e o almoço. Quando começou a ficar entediado, quis ir embora, mas como Xiao Ji não tinha dito que ele poderia ir, não ousou tocar no assunto e continuou esperando ao lado dele.
Ainda era de manhã quando chegou, mas agora já estava quase na hora do jantar. Se não voltasse logo, já estaria escuro quando chegasse em casa.
Depois que Xiao Ji terminou de treinar e se lavou, notou a hora, e Zhao Min finalmente reuniu coragem para mencionar a partida. — Sua Alteza, parece que está ficando tarde...
Xiao Ji vestiu as roupas, foi até a janela e olhou para o crepúsculo que já escurecia, depois se virou para o lento Zhao Min: — Mm, está mesmo tarde.
Zhao Min assentiu: — Sim, então eu…
Mas Xiao Ji o interrompeu pegando seu manto e enfiando nas mãos de Zhao Min: — Então não vá. Fique e jogue xadrez comigo por um tempo.
Zhao Min ficou surpreso: — Sua Alteza... hoje?
Quando saiu de casa de manhã, seu pai não tinha dado instruções sobre a volta, mas Xiao Ji tinha dito que queria que ele engordasse antes de dormirem juntos. Isso queria dizer que Xiao Ji já achava que ele estava pronto?
— Primeiro me ajude a me vestir. — Xiao Ji disse, abrindo os braços. Sua roupa interna de seda escura estava frouxa, a gola caída revelando um trecho de músculo firme e liso. Porém, havia uma cicatriz assustadora em seu ombro esquerdo, se não fosse por medo de assustar Zhao Min, Xiao Ji teria feito ele ajudar a vestir até a roupa interna.
Zhao Min não tinha ideia do que o Regente estava pensando e o ajudou a se vestir de forma séria, evitando olhar diretamente e se concentrando para não errar.
Quando Xiao Ji finalmente estava vestido, Zhao Min suspirou de alívio, admirando o laço que havia feito antes de prender o último cinto de jade. — Sua Alteza, está pronto.
Xiao Ji franziu o cenho: — Como está o físico deste rei?
Zhao Min: “…”
E-eu não prestei atenção.
Ele respondeu devagar: — Sua Alteza está muito... saudável?
Xiao Ji: “...”
— Saudável? Hah. — Xiao Ji ficou sem palavras e não quis dizer mais nada, levando Zhao Min para fora do pátio. — Vamos para o pátio da frente. Zhuo Lun já deve ter voltado, e já está na hora do jantar também.
— Ah? — Zhao Min respondeu. Na verdade, ele já tinha comido bastante no almoço e poderia muito bem pular o jantar.
Zhao Min foi puxado pela mão de Xiao Ji. Sem conseguir se soltar, só pôde seguir, dizendo envergonhado: — Sua Alteza, por que não vamos direto dormir... dormir? — Assim que falou, Zhao Min sentiu seu rosto esquentar e não ousou levantar os olhos para Xiao Ji.
Depois de um momento, pensou em se explicar de novo, mas, inesperadamente, Xiao Ji riu e deu um tapinha em sua cabeça: — Quando foi que este rei concordou com seu pedido?
Zhao Min ficou sem palavras. — Ainda não... está tudo bem?
Ao dizer isso, Zhao Min instintivamente lembrou-se da exigência de Xiao Ji e tocou a própria bochecha, de fato, ainda não havia muita carne ali. — Então, vamos comer. — Sugeriu.
— Mm. — Xiao Ji não disse mais nada e soltou sua mão. — Acompanhe-me.
. . . . . ◟੭
Quando chegaram ao pátio da frente, Yunquan estava circulando ao redor do Mordomo Wang. Além disso, uma mulher vestida com roupas de artes marciais vermelhas estava empoleirada no beiral. Zhao Min a reconheceu como uma das guardas de Xiao Ji.
Zhuo Lun mastigava distraidamente um galhinho. Ao ver seu mestre surgir com a pequena beleza saindo de seus aposentos, um sorriso de tia espalhou-se em seu rosto: — Mestre, já terminou seus assuntos?
O rosto de Zhao Min ficou vermelho ao ouvir isso.
A mulher falava com tanta ousadia. Embora não soubesse se ela estava se referindo a outra coisa, Zhao Min instintivamente pensou em dormir com Xiao Ji, suas orelhas queimando de vergonha.
Xiao Ji semicerrrou os olhos e lançou um olhar frio para Zhuo Lun, depois disse ao levemente corado Zhao Min ao seu lado: — Vá brincar lá fora um pouco.
Zhao Min assentiu rapidamente e correu para fora do pequeno pátio para ajudar Yunquan e o Mordomo Wang no trabalho.
Zhuo Lun observou a pequena beleza envergonhada escapar e estalou a língua, pulando para o lado de Xiao Ji.
— Mestre, o que eu disse? Por que o rostinho do irmãozinho está tão vermelho...
Xiao Ji: — Cale-se. Fale de assuntos sérios.
. . . . . ◟੭
Zhao Min correu até eles justamente quando Yunquan terminava de aprender a podar galhos secos com o Mordomo Wang. Ao ver Zhao Min aparecer, ele mostrou animado sua nova habilidade: — Jovem Mestre, olha, este é o galho de ameixa que eu e o Tio Wang podamos juntos. Podemos levá-lo para arrumar as flores!
Era inverno agora, e após várias nevascas, muitas das flores de ameixa da residência real já tinham caído. Sua Alteza gostava de plantar flores e plantas no pátio para mantê-lo vibrante. O Mordomo Wang era responsável por cuidar delas, muitas vezes podando ramos para decoração interna, geralmente fazendo isso pessoalmente.
As ameixeiras estavam deslumbrantes, ainda com alguns flocos de neve grudados nos galhos - de fato, seriam lindos arranjos.
Zhao Min assentiu: — Obrigado, Mordomo Wang.
O Mordomo Wang entregou a tesoura a um servo próximo e fez uma reverência para Zhao Min: — Jovem Mestre é muito gentil, são apenas alguns galhos.
Recentemente, os agentes de Sua Alteza tinham trazido muitas notícias da capital, e o Mordomo Wang ouvira algumas delas. Ao que parecia, a residência do Marquês Haiping tinha ganhado alguém, um herdeiro legítimo que havia vagado do lado de fora, aparentemente o tal Zhao Mo, que tinha ficado em primeiro lugar nos exames de outono.
O Mordomo Wang olhou para o jovem herdeiro indiscutivelmente bonito ao seu lado e pôde adivinhar que provavelmente ele era o herdeiro que tinha sido criado na residência do Marquês esse tempo todo. A reputação do casal Haiping não era das melhores, e agora que o verdadeiro herdeiro havia retornado, ele se perguntou o quanto isso seria um golpe para o menino.
O temperamento de Zhao Min era um tanto dócil e não conquistava a afeição das pessoas; seus pais frequentemente o chamavam de estúpido. No entanto, por mais tolo que fosse, ele sabia agradecer quando recebia gentileza. Se o Mordomo Wang não lhe tivesse dado um guarda-chuva naquele dia, ele teria desmaiado muito antes de Xiao Ji voltar. — Preciso agradecer. Naquele dia, você me deu um guarda-chuva, caso contrário, eu teria congelado.
O Mordomo Wang suspirou, olhando com simpatia para o jovem de pele clara que se comportava de forma tão obediente. Ele podia adivinhar, ao menos em parte, sua situação: — Está frio demais aqui. Vá esperar no pátio interno um pouco. Já mandei preparar o jantar. Depois que comermos, arranjarei alguém para levá-lo para casa.
Zhao Min: — Não precisa ter pressa. Deixe-me ajudar a arrumar as flores primeiro.
Mordomo Wang: — … Tudo bem também.
. . . . . ◟੭
Do lado de Xiao Ji, ele já suspeitava das notícias que Zhuo Lun havia reunido, mas ouvir sobre a situação de Zhao Min ainda o deixou um pouco irritado.
Quanto mais Zhuo Lun falava, mais raiva sentia. Ao saber da situação de Zhao Min por informantes entre seus antigos subordinados em Jiangnan, ela só queria correr até a residência do Marquês Haiping e espancar aqueles dois canalhas.
— Mestre, você não faz ideia do cafajeste que o Marquês Haiping foi na juventude. Se todos os filhos ilegítimos dele viessem para a capital, teriam que fazer fila para serem reconhecidos. Que pena daquela cortesã de Jiangnan, uma canção dela custava mil peças de ouro naquela época. Como ela pôde ser tão cega a ponto de segui-lo, achando que trocar o filho lhe garantiria uma vida de luxo? No fim, perdeu a esposa e ainda as tropas.[4]
[4] (折了夫人又赔兵): Um chengyu (idioma chinês) do Romance dos Três Reinos, usado para indicar um plano que deu errado e causou dupla perda - perdeu o que tentava proteger e também o que queria ganhar.
Zhuo Lun continuou: — Ela desperdiçou a vida inteira criando o filho de outra mulher para se tornar o melhor erudito. E ele ainda é contra você, Mestre. Quer que a gente lide com Zhao Mo em particular?
Xiao Ji pousou a xícara de chá e disse calmamente: — Sem pressa. A pessoa por trás de Zhao Mo é Xiao Jingchi. Vamos ver quais serão os próximos passos deles.
— O Príncipe Herdeiro se aliou a ele? — O rosto de Zhuo Lun escureceu. — Isso é coisa da Imperatriz?
— Quem sabe? — Xiao Ji riu baixo.
— E agora? Você vai assistir Zhao Mo ser reconhecido pela residência do Marquês Haiping? Com o título de herdeiro, a situação de Zhao Min só vai piorar. — Zhuo Lun era uma apreciadora de belezas e gostava de pequenas belezas obedientes. — Por que o senhor não o toma para si, Mestre? Embora dê trabalho, você gosta dele, não gosta? Nossa residência não vai ficar mais pobre por causa de uma tigela de arroz a mais.
— Zhuo Lun. — Xiao Ji apertou a ponte do nariz.
Zhuo Lun estava ocupada tramando estratégias para Zhao Min quando foi chamada. Olhou confusa para seu mestre: — Mestre?
Os dedos de Xiao Ji tamborilaram distraidamente na mesa antes de perguntar de repente: — Será que ele vai odiar este rei?
Zhuo Lun: “?”
Embora a pequena beleza fosse encantadora, o mestre estava mesmo tão preocupado assim? Nem tinham resolvido os assuntos mais importantes ainda.
Enquanto mestre e serva conversavam, Zhao Min entrou de repente, segurando vários vasos de flores. Ele acenou para os dois no pavilhão: — Sua Alteza, Senhorita Zhuo Lun, já podemos jantar?
Zhuo Lun ficou pasma: Ele me chamou de senhorita?
— Claro! Sim, sim, vamos comer! — Zhuo Lun respondeu animadamente.
— Oh, que bom. Deixe-me avisar o Mordomo Wang primeiro. — Zhao Min disse.
Depois de dizer isso, Zhao Min virou-se para sair. Zhuo Lun observou a pequena beleza se afastando e murmurou: — Mestre, ele me chamou de ‘senhorita’? O senhor ouviu?
Xiao Ji lançou um olhar de lado, parecendo insatisfeito com Zhuo Lun: — Vá preparar algumas coisas. Em poucos dias, este rei precisa visitar a residência do Marquês Haiping.
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* N/Tradutora: Deixa eu explicar umas coisinhas antes que vocês fiquem confusos como eu fiquei lendo isso.
Primeiro: o Mordomo Wang é sim o mordomo-chefe da residência do Regente. No começo eu traduzi umas vezes como “Cuidador Wang” ou até “Nanny Wang” porque o texto original tava bem confuso (。•́︿•̀。) Mas agora decidi de vez: ele vai ser sempre Mordomo Wang daqui pra frente!
E outra: o sobrenome dele e da Madan Wang é só coincidência, tá? Na China esse “Wang” é tipo o nosso “Silva”, super comum. Então nada de teorias da conspiração sobre eles serem parentes secretos (ノ≧ڡ≦)ノ
FIM DO CAPÍTULO